Estranhas Coincidências mostra como a existência de cada ser humano
neste nosso mundo é semelhante aos seus pares. A nossa essência é fruto
da mesma matéria, os nossos caminhos estão enrodilhados e no final de
cada percurso somos absorvidos por sensações e sentimentos idênticos. Se
pensarmos sobre aquilo que diverge a vida de cada um de nós chegamos à
conclusão que em tudo somos semelhantes.
Nada diverge a vida de
Judite e Isaac, Samuel, Salomé, João e Dalila e Pedro e Simão. Todos sem
excepção amam, sonham, entristecem e sentem dor. Todos vivem sabendo
que a qualquer momento as suas vidas podem mudar. Todos sem excepção
sabem que a vida é volúvel e que por vezes pequenos nadas alteram para
todo o sempre o rumo da existência de cada um.
As nossas vidas não
são tão diferentes de Judite e Isaac, Samuel, Salomé, João e Dalila e
Pedro e Simão. Cada estória contada poderia ser a minha existência
retratada ou até mesmo a sua caro leitor.
Estranhas Coincidências é um livro muito, muito pequeno, daqueles que se lê tranquilamente numa viagem de comboio ou numa sala de espera.
Ainda assim, guarda nas suas páginas quatro contos, quatro casos de vida. As histórias são muito simples, pouco mais do que o registo de um momento de vida de cada personagem; cada protagonista reflecte muito brevemente nas circunstâncias da sua vida que o levaram àquele momento. Tão curtas são que não sei se as posso chamar de "histórias".
"Estranhas" coincidências? Não encontrei muitas, confesso, à excepção do último conto (em que uma enorme tempestade, tão terrível que parece ser intervenção divina, permite dois amantes do mesmo sexo fugirem e viver o seu amor livremente. Achei deveras interessante essa sugestão controversa).
Tal como a sinopse do livro indica, todas as vidas são bastante semelhantes entre si e com as nossas. Todas as pessoas que conhecemos, todas as nossas escolhas são, se olharmos para trás, resultado de coincidências atrás de coincidências. E essas coincidências são, a maior parte, acontecimentos absolutamente vulgares. Os momentos da nossa vida não são acontecimentos isolados, mas sim resultado de tudo aquilo que já passou, e creio que essa é a verdadeira conclusão desta leitura: as estranhas coincidências da vida não são, no fundo, estranhas, mas sim comuns a todos nós. A vida não é mais do que uma história de acasos.
Infelizmente, os contos são demasiado breves. Mais parecem resumos de uma história. O que não é de todo mau sinal SE um dia chegarmos a ler as histórias completas: gostaria muito de acompanhar Isaac na sua viagem, ou conhecer melhor a aldeia de Samuel, ou explorar com um olhar mais profundo essa noite de temporal. Acabamos de ler cada conto com a sensação de que não lemos uma história, mas sim uma sinopse, nunca conseguindo sentir a ligação às personagens porque não se dá tempo nem palavras para isso.
Contudo, José Vieira (pseudónimo de Teresa Vieira Lobo) revela um dom para a escrita através de um conhecimento das palavras. É o ponto positivo deste livro: está muito bem escrito, com um estilo muito correcto. Parece mesmo que José Vieira nos está a contar uma história (não infantil). Existe a promessa de uma autora que tem o dom de entreter o leitor, mas que precisa de escrever muito, muito mais. Um conto não é um resumo, é uma história que se sustenta a si própria em poucas páginas, e creio que José Vieira falha nisso. Não obstante, é um pequeno aperitivo para quem procura novos autores e uma promessa de livros mais compostos no futuro. Resta-me esperar pelo dia em que as histórias que não o chegaram a ser sejam efectivamente publicadas.
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