sexta-feira, 28 de junho de 2019

25 de Abril, Corte e Costura, de João Cerqueira

Celebram-se os 40 anos da revolução. A Direita propõe uma tourada, a Esquerda um desfile gay. Entretanto, chegam à cidade um antigo inspector da PIDE decidido a acabar com a festa, um toureiro espanhol que sonha com a União Ibérica, um guru tarado sexual e as Brigadas Indignadas com a missão de fazer explodir uma bomba.

"O estilo de João Cerqueira é irreverente e cheio de humor para o leitor sofisticado" Reader's Favorite

"A Escrita de João Cerqueira é altamente recomendável para quem gosta de histórias alternativas. A não perder!" Midwest Book Review






João Cerqueira é dos poucos escritores a quem imediatamente acedo ler um novo livro seu. Gostei imenso da experiência absurda de A Tragédia de Fidel Castro e A Segunda Vinda de Cristo à Terra continuou a ser uma leitura com muito humor e perspicácia à mistura. Esses dois livros aconselho.

Este 25 de Abril é no entanto um tiro completamente ao lado.

A história passa-se na cidade de Augusta (fictícia), que quer festejar os 40 anos do 25 de Abril em grande. O problema é que ninguém se decide como é que o querem fazer: a Direita política quer uma tourada, a esquerda política um desfile gay e um teatro histórico, e o presidente da Câmara tem as suas próprias ideias revolucionárias; para se juntar à festa, um antigo inspector da PIDE quer acabar com os valores de Abril, o toureiro quer uma Ibéria unida, um casal quer abalar o sistema económico, um guru sexual quer doutrinar a cidade, e um artista plástico quer exibir a sua própria versão de Abril.

Como é que isto se vai resolver? Quem vai conseguir fazer a sua revolução?

Os ingredientes para uma divertida salganhada estão todos lá. Faltou misturá-los devidamente e cozer a massa.


João Cerqueira aproveita para satirizar todo o mundo moderno português, desde os grandes poderes às pequenas pessoas, todos os extremos e todos os centros, e quiçá aí está o seu primeiro erro: se queria uma sátira tão abrangente (onde de facto ninguém é poupado, e a ideia é ambiciosa), não o deveria ter feito num livro tão pequeno.
O escritor perde-se na necessidade que sente de apresentar exaustivamente tantas personagens e tantas perspectivas. No fim, o que temos é isto: um livro que começa a apresentar a sua panóplia de personagens, uma de cada vez. Quando finalmente já não há mais introduções a fazer, o livro acaba. E pronto, assim uma ideia relativamente ambiciosa cai numa comum amenidade e discrição, sem uma história que faça comichão.

Mas as personagens são pelo menos interessantes o suficiente para justificar esta abordagem? Nem por isso. A maior parte dos protagonistas pouca curiosidade suscita. É esperado que sejam caricaturas, algumas bastante vulgares, num livro de comédia, mas o encadeamento das suas ideologias é bastante forçado, e a interacção entre elas pouco inteligente.

Teve piada pelo menos? Meh. Talvez ver as pessoas a puxarem os cabelos umas das outras não seja bem o meu género de comédia (não, não é mesmo), mas esperava uma comédia mais inteligente.

O final deste tipo de livros é sempre muito complicado. É difícil de concluir uma história com tantas linhas que prometeu abordar tanta polémica. Infelizmente, acho que de facto falha em elevar-se. Não é uma conclusão descabida ou fora de série, mas não surpreende nem perdura. É uma coisinha muito discreta e previsível, e não compensa ter aturado as páginas anteriores.

Um livro que parece querer afirmar-se como "desperto", atento às discordâncias de Abril e do mundo social e político dos nossos dias, mas que acaba por ser um chorrilho de personagens que andam por ali, uma quantidade de divagações que mesmo sendo correctas e atentas estão bastante forçadas no discurso todo, e nada fica connosco.


Com muita pena minha, uma perda de tempo. Este escritor já me fez rir, já me surpreendeu. Desta vez não.

2 comentários:

Iceman disse...

Confesso que já tinha ouvido o nome desse escritor, algures, mas nunca me despertou especial atenção.

Mas vindo da tua parte, significa que lhe darei uma chance num futuro próximo.

Abraço!

Pedro disse...

Aconselho-te, mas pega só n’A Tragédia de Fidel Castro!! Esse livro é engraçado, se estiveres com disposição para História Alternativa com muita bizarrice à mistura (imagina um Christopher Moore, mas mais político e satírico).

Os restantes livros dele, tenho algumas reticências, e este 25 de Abril é um redondo não para mim. A reimaginação de Fidel Castro foi provavelmente um fenómeno pontual.

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