sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sentença de Morte, de Val McDermid

 (possíveis spoilers nesta sinopse, não perdem nada se avançarem para a crítica propriamente dita)
Num dia gélido de Dezembro de 1963, Alison Carter, de 13 anos, desaparece subitamente da sua aldeia. A partir daí, nada vai ser como antes para os habitantes do lugarejo isolado em plena Inglaterra rural. O recém-promovido inspector George Bennett está firmemente decidido a resolver o caso, mesmo que seja apenas para devolver a uma mãe o corpo da filha morta.
À medida que os dias passam, a convicção de que Alison está morta começa a enraizar-se, mas, sem cadáver nem pistas, a investigação suscita mais perguntas que respostas.
Bennett sente-se perante uma muralha de dúvidas até descobrir uma verdade chocante, cujas consequências se farão sentir por muito tempo.
Décadas mais tarde, Bennett acede finalmente a contar a sua história a uma jornalista, Catherine Heathcote, que está a escrever um livro sobre o caso, que ela viveu de perto na sua adolescência. No entanto, quando o livro está prestes a ser publicado, ele tenta impedi-la, sem lhe dar quaisquer explicações, alegando ter novos dados que se recusa a revelar.
Determinada a descobrir o que realmente aconteceu a Alison Carter, Catherine é confrontada com uma revelação que teria querido deixar sepultada para sempre nesse gélido e escuro dia de Dezembro de há trinta e cinco anos atrás.


Val McDermid cresceu numa comunidade mineira da Escócia e leccionou Inglês em Oxford. Foi jornalista durante dezasseis anos e actualmente vive em Manchester, dedicando-se apenas à escrita. Recebeu o prémio Gold Dagger para o melhor romance policial em 1995 com The Mermaids Singing (O Canto das Sereias). Sentença de Morte é o seu primeiro livro publicado em Portugal. 

Ora aqui está a primeira crítica desde há algum tempo.
Para quem já me segue há algum tempo, saberá que eu não sou fã de policiais. A procura pelo culpado, a descoberta das várias evidências... Francamente, a mim pouco me deixam entusiasmado. Acabo, portanto, por deixar um policial de lado.
Sentença de Morte foi-me emprestado, pelo que me vi "obrigado" a ler esta sugestão. E, de facto, não obstante ser um policial, confiei que iria gostar.

Num dia gélido de Dezembro uma rapariga de 13 anos desaparece da sua aldeia. É uma aldeia isolada do mundo, onde os poucos habitantes são parentes uns dos outros. O desaparecimento da rapariga vai revelar a pequena aldeia ao mundo e perturbar a vida dos aldeões para sempre.
A investigar o caso está George Bennett, um jovem Inspector com grandes valores. O tipo de pessoa que nunca em anos desistiria do caso se este permanecesse por resolver. E é preciso muita perseverança, pois o corpo da rapariga não tem maneira de ser encontrado, e sem corpo não há como identificar o culpado do desaparecimento.
Este processo vai levar a um julgamento brutal, afectando a vida da aldeia e do Inspector mais do que desejavam.
Por causa de Alison Carter, a menina desaparecida, as vidas dos aldeões e do Inspector nunca mais serão as mesmas. Passados trinta e cinco anos, esse gélido dia de Dezembro continuará a assombrá-los.

É, portanto, um livro que atravessa gerações, décadas de história. Esta foi imediatamente uma das coisas que mais me entusiasmou. Nunca se resumiu à "procura do culpado". Desenvolve-se ao longo de toda a investigação, de um julgamento e, após trinta e cinco anos, a vida das personagens continua a ser afectada. É, mais do que um policial, um thriller épico.

Gostei da maneira como se encontra organizado. Os capítulos vão variando ao longo da obra, quer se trate da investigação, do julgamento ou para além disso. O romance tem uma estrutura diferente do habitual e encaixou perfeitamente para melhor acompanharmos o desenvolvimento da acção.
Da escrita pouco tenho a dizer senão que mal dava por ler 20 páginas. Começava e, passado pouco tempo, dava por mim já muito avançado. Nunca com demasiadas descrições mas nunca as descurando, nunca demasiado parado, é fácil de perceber porque é que este é considerado a "obra-prima" de Val McDermid.

Como sempre, o essencial para se gostar de um romance é sobretudo as personagens. Esta história resume-se a elas, já que trata sobretudo do impacto de um caso policial nas suas vidas. E, afinal, acho que é algo que muitos policiais deixam de lado mas é o que, para mim, os torna mais verídicos. Nunca um caso de desaparecimento ou homicídio poderia alguma vez deixar um agente indiferente. Pelo menos um como George Bennett. Bennett é um Inspector dedicado, fácil de simpatizar, e o criminoso gera uma das maiores repulsas que já senti a ler um livro.
As poucas críticas negativas que comecei foram em relação à atitude dos habitantes da aldeia, tão pouco credível para um policial mas perfeito para o desenvolvimento do livro. A verdade é que foi preciso ler até ao fim para perceber que a genialidade da autora até nesses pormenores tocou!

Dos poucos policiais que já li, este é sem dúvida dos melhores, senão mesmo o melhor. Arrasta-nos numa investigação misteriosa e não se resume a apenas um espaço temporal. Tirando o facto de se tratar de uma verdade profundamente chocante, o romance preocupa-se em desenvolver o estado psicológico das personagens em relação a este caso, o que o torna tão sentido. O final é imprevisível? Bem, eu diria que sim. Há sempre a suspeita de que a verdade ainda não foi encontrada e o final consegue ser bastante chocante. Não digo que tenha ficado absolutamente boquiaberto, mas sim o final é suficientemente imprevisível.

A única coisa que recrimino neste livro é mesmo a edição. A sinopse, que apresento em cima, acaba por resumir o livro inteiro! Não dá nenhuma revelação do enredo (o que é impressionante), mas bastava dizerem que este caso vai afectar a vida das personagens trinta e cinco anos depois (o que é uma das coisas mais interessantes no livro). Nada mais. Parece que a sinopse dá mais importância às últimas 100 páginas do que às primeiras 400.

Aconselho sem reservas o livro, para amantes de policiais ou não. Bastante bem escrito, bastante bem pensado, poucas falhas conseguirão apontar tenho a certeza. Emocionante até à última página, é uma leitura muito recompensadora.

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