Antes de mais, quero agradecer a todos os participantes no passatempo de Natal. Aviso, contudo, que ainda demorarei a anunciar o vencedor.
Não está esquecido!
Avançando então para a nossa crítica...
A vida na Ilha Negra é demasiado aborrecida para Mario, um jovem pescador que procura uma forma de subsistir sem ter de se dedicar à pesca, como a maior parte dos habitantes da ilha. Mario decide abandonar o seu ofício para se converter no carteiro da ilha, onde só Pablo Neruda recebe correio. Mario e o poeta entabulam uma singular relação. Mario aprende com Neruda o que é uma metáfora e pede-lhe ajuda e conselhos para conquistar a jovem Beatriz. Entretanto, Salvador Allende ganha as eleições e as mudanças políticas sucedem-se vertiginosamente no país até acabarem por afectar gravemente as vidas dos habitantes da Ilha Negra.
Antonio Skarmeta nasceu em Antofagasta (Chile) em 1940. Escritor, argumentista, tradutor, director de cinema e de teatro e professor de Literatura, é um dos mais relevantes autores latino-americanos actuais. Além de O Carteiro de Pablo Neruda (1985), obra publicada em 30 línguas e adaptada com grande êxito internacional ao cinema, destacam-se da sua produção literária os romances Soñe que la nieve ardía, No pasó nada, La Insurrección, A Boda do Poeta, A Rapariga do Trombone e A Dança da Vitória.
Pois bem, estava o Pedro na biblioteca, com pouco menos de três horas disponíveis. O que decide? Pegar num livro. Mas não num livro qualquer! É preciso pegar num livro que se leia em três horas.
Pedro pega, então, em "O Carteiro de Pablo Neruda", que aliás já pegou inúmeras vezes mas que nunca chegou ao fim.
As conclusões são as seguintes: adorei o livro e por muito pequeno que seja vale a pena gastar todo o tempo do mundo a saboreá-lo.
Mario Jiménez é um jovem algo irreverente, ainda que não o saiba; é um jovem apaixonado, ainda que não o saiba. É um jovem que vive numa vila de pescadores praticamente isolada, ao qual não é dada a oportunidade de explorar uma paixão pela vida, pelo mundo e pelas palavras que ele tem naturalmente mas que não sabe. Até concorrer ao lugar de carteiro da ilha onde essa vila se localiza e conhecer Neruda, um poeta.
Ao mesmo tempo, conhece Beatriz, que acredita ele ser o amor da sua vida. E vai dedicar-se a conquistá-la...
E, como se não bastasse, Mario, Beatriz e Neruda vivem num tempo conturbado, de mudanças políticas, que acabarão por afectar negativamente as suas vidas.
Algo faz deste livro uma grande obra. Talvez a história única, talvez a encantadora escrita de Skarmeta. Só tenho coisas boas a dizer do livro, a não ser a minha grande pena de não ser maior (não que me sinta desiludido, mas este era mesmo daqueles que eu queria que fosse maior...).
É belo. Embora a troca de ideias entre Mario e Neruda seja pouco mais do que essa descoberta das metáforas, não deixa de ser um livro belo e poético ao longo das páginas. Achei a escrita de Skarmeta absolutamente encantadora, envolvente. Não é, de todo, o tipo de livro para ler em duas ou três horas. É um livro para ler, com todo o gosto.
Convém desde já dizer que não fiquei desiludido com o tamanho do livro porque sabia o que esperar. Nunca irei para a leitura de um livro de pouco menos de 200 páginas à espera de algo maior do que o que aparenta ser, caso contrário vou mesmo pensar que foi insuficiente. Embora seja para ser lido com gosto, é preciso saber que é um livro pequeno e, a partir daí, aproveitá-lo. Na minha experiência, foi possível a muitos níveis.
A história tem tanto que seríamos capazes de falar mais do que o próprio livro. Mario e Neruda começam uma relação de uma maneira curiosa, sem pressas na verdade, mas desde logo tocante. Não é, contudo, a história principal. É apenas uma das histórias do livro. Porque Mario também luta por Beatriz, cuja mãe o despreza. É um livro sobre uma história de amor, sobretudo. E, finalmente, como se já tivéssemos lido uma bíblia inteira, espera-nos ainda uma história sobre política, sobre como por vezes o amor não controla o destino do mundo e as intrigas políticas. Fiquei agradavelmente admirado com esta parte do livro, porque nada previa a sua importância ou o destaque que tem. Ainda que de poucas páginas, o livro soube-me a mil, tanta é a relevância das coisas.
Não deixa de ser verdade, contudo, que é um livro pequeno. Só tinha a ganhar se fosse bem mais longo: se Mario e Neruda tivessem perdido mais tempo a conhecer-se; se o romance entre Mario e Beatriz tivesse demorado mais tempo (principalmente a oposição da mãe de Beatriz à união); se as intrigas e confrontos políticos fossem mais desenvolvidos, assim como muitas das descrições. Não que sinta a falta de todas essas coisas, o que eu queria mesmo era continuar a ler, continuar a apreciar uma história com estes potenciais todos e esta escrita tão poética e envolvente. Queremos que tudo dure mais, que nos leve ao êxtase de emoções.
Por outro lado, hoje lembro-me do livro e parece mesmo grande. Parece que, de alguma forma, o romance de Mario e Beatriz foi tão forte quanto o pretendido; parece que a história política do livro está tão bem explorada como imagino. Suponho que isso só pode ser bom. É um livro que, depois de várias tentativas de atingir a sua emoção, finalmente ocupa um lugar especial na minha estante. A ler, a relembrar, "O Carteiro de Pablo Neruda" (ainda que breve) tem tudo.
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