Catarina de Bragança saiu da barra de Lisboa a bordo de um navio da armada inglesa no dia 25 de Abril de 1662 para se casar, em Inglaterra, com o rei Carlos II. Levava consigo o hábito do chá, que os ingleses desconheciam, e a moda dos leques e Portugal entregava à Inglaterra, Bombaim e Tânger. Quando os noivos finalmente se encontraram, em Portsmouth, Catarina ficou imediatamente apaixonada por Carlos II que, embora feio, tinha um porte régio e um enorme poder de sedução. Também o rei ficou seduzido pela inocência de Catarina e cedo a amou… à sua maneira.
Habituada a uma vida muito resguardada na corte portuguesa, de costumes rígidos, Catarina foi confrontada com uma corte licenciosa, dominada pelo rei e pelos prazeres do amor.
Católica numa nação protestante, incapaz de dar ao país o tão esperado herdeiro, enfrentando ameaças de divórcio e acusações de conspiração, D. Catarina de Bragança manteve-se firme na sua fé e no seu amor pelo rei, que pelo seu lado a protegeu e amou sempre, não obstante as muitas mulheres que cruzaram a sua vida.
Jean Plaidy nasceu a 1906 e faleceu a 1993. Embora não seja conhecida cá em Portugal, vendeu centenas de milhões de livros por todo o mundo e parece-me que merece ser reconhecida como a primeira a explorar o género de romance histórico pelo qual actualmente escritoras como Philippa Gregory ("Duas Irmãs e um Rei") são famosas.
Infelizmente, a Oceanos parece ter publicado este livro pelo facto de se tratar de uma biografia romanceada de uma rainha de Inglaterra mas portuguesa. É sem dúvida uma pena, visto que se insere numa série de 11 livros, cada um sobre uma rainha de Inglaterra, e é uma excelente leitura para qualquer momento.
D. Catarina de Bragança casou-se tarde, para os termos da época, vivendo todo o tempo até lá fechada no convento ou num palácio, à espera do dia em que o rei voltasse a ocupar o trono de Inglaterra. Quando esse dia chegou, um sonho concretizou-se. Infelizmente, a vida não é um conto de fadas, e por muito tarde que se tenha casado parece que ainda não estava preparada... Viveu em Portugal longe da corte, e quando chegou a Inglaterra encontrou-se no meio de intrigas, de interesses e das amantes do rei.
Nunca foi uma rainha muito amada pelo povo de Inglaterra pois não conseguia gerar um herdeiro e era católica (quando em Inglaterra dominava o protestantismo). Ainda assim, neste livro somos capazes de a reconhecer como uma grande amiga. Escrito na primeira pessoa, relata a sua vida, os seus sonhos, as suas expectativas, a corte de Inglaterra, o seu amor pelo rei e os seus ainda maiores desgostos... Porque "Os Prazeres do Amor" é uma ilusão, na verdade este livro fala dos desgostos do amor.
D. Catarina ama D. Carlos II. Ele é o seu príncipe encantado. O problema é que ele possui inúmeras amantes, descaradamente, e a rainha é quase sempre obrigada a sujeitar-se aos encantos que elas exercem sobre o rei. É triste, muito triste, mas ao longo do livro uma coisa temos a certeza: D. Carlos amava realmente D. Catarina, embora não fosse capaz de abandonar as aventuras sexuais das suas amantes amava D. Catarina de todo o coração. E por isso defendeu-a sempre, contra todas as intrigas contra ela, contra todas as ameaças (que perseguem Catarina todo o tempo que está em Inglaterra).
O que é o amor? É essa a questão a que o livro tenta responder, muito mais do que qualquer História. Embora Plaidy seja reconhecida pelo pormenor histórico, não foi de todo isso que encontrei aqui. Encontrei uma novela/drama familiar, uma mulher que tenta compreender o marido e suportar as crises que se abateram neste período da História da Inglaterra, e uma análise bastante curiosa sobre o que é, afinal, o verdadeiro amor.
Estava à espera de muito mais pormenor histórico, sem dúvida. Acho que a autora se debruçou demasiado nas questões pessoais de Catarina, e isso tornou-se demasiado repetitivo. Não tem uma dinâmica fervorosa, como poderia ter. Para além disso, estava à espera de uma maior atenção à História, talvez alguma dramatização. Pode ter uma investigação rigorosa, mas há poucos pormenores neste livro. Mais uma vez, Catarina parece tão preocupada com os seus próprios dilemas, que constantemente repete, que se esquece de reparar nos hábitos mais comuns (e até os mais notáveis) da corte inglesa. Há sempre em conta as várias "peripécias" da época, mas mereciam maior dramatização! Peca pela pouca descrição, peca por não nos mostrar os palácios e as paisagens, peca por não nos contar os pormenores dos vestidos das senhoras da corte, de como eram as refeições, de como passavam o tempo, peca por falar tanto das amantes de Carlos que se esquece de falar da Inglaterra do século XVII! Pessoalmente, a nível histórico tem muito, muito em falta... Acabamos por querer ter desejado ficar a saber mais (e é o que farei).
Por outro lado, há uma coisa sem dúvida fascinante no livro, e que me faz querer ler mais da autora, que me fez gostar imenso de lê-lo: a escrita. Jean Plaidy tem um dom, pois ler 300 páginas num dia parece pouco. Tem um estilo bastante acessível, bastante fluido mesmo, e é extremamente envolvente apesar de tudo. É uma daquelas leituras que sabe bem, que sem ser extraordinária sabe extremamente bem ler! Daí ter gostado tanto de conhecer a autora e de achar que este é o tipo de livro a ler em qualquer momento. Lê-se com bastante prazer sem dúvida. Desde a primeira página que simpatizamos com D. Catarina, desde a primeira página que gostamos de acompanhá-la e de a "ouvir".
Sem ser um livro de leitura obrigatória, ou sequer que se destaque dentro do género, é um livro que gostava de ver destacado numa livraria, pois é acima de tudo uma excelente leitura. Não é um livro memorável, mas o leitor não o vai esquecer. Não porque seja um grande livro, apenas porque é uma excelente leitura. Facilmente recomendável, facilmente um livro a oferecer.
4 comentários:
óptimo blogue! foi um gosto passar por aqui!
http://livrariapodoslivros.blogspot.com/
* http://chovemlivros.blogspot.com/
este sim é o meu blogue, peço desculpa pelo engano.
Catherine ;)
vou ler!
É pensa as editoras só pensarem nos escritores de livros de vampiros e satanicos, quando há tantos escritores de romance histórico de grande qualidade como esta senhora, Anya Seton e o Patrick O'Brian, que têm a sua obra parcialmente editada em Portugal.
Catherine,
muito obrigado, passarei pelo teu cantinho claro!
Anónimo,
acredito que este livro foi publicado cá em Portugal pois D. Catarina de Bragança era portuguesa... Nem foi pel autora, tenho a certeza. Tenho muita pena disso, pois embora seja uma excelente leitura tenho a certeza que este livro não mostra nem metade do potencial da escritora.
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