sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Sombras da Noite Branca, de Sandra Carvalho

O momento de todas as decisões aproxima-se. Halvard, o Filho do Dragão, espera ansiosamente a chegada da Noite Branca para assimilar o Conhecimento Absoluto e tornar-se um deus na Terra. Quase todos os seus inimigos já tombaram; apenas o rei Ivarr do povo viquingue, os Guardiões das Lágrimas do Sol e da Lua e os sacerdotes dos Penhascos ainda resistem. Entretanto, a guerreira Kelda da Montanha Sagrada terinou com afinco sob a orientação do feiticeiro Sigarr e está pronta para se tornar mestra da Arte Obscura. Apesar de saber que a celebração desse ritual irá extinguir a luz da sua essência, ela persiste, pois só assim será capaz de deter o avanço sanguinário do irmão gémeo. Todavia, a revelação de que o seu destino é concretizar a profecia e não contrariá-la, poderá abalar as suas convicções. Terá Kelda a determinação e a força necessárias para cumprir a missão que a Pedra do Tempo lhe atribuiu, enquanto chora a perda do amor do príncipe da Gente Bela? Ou, sobre o Altar do Mundo, cederá ela à tentação do poder e abrirá o seu coração às sombras da Noite Branca? Sombras da Noite Branca é o oitavo volume da série de culto Saga das Pedras Mágicas.



Chegamos ao fim da Saga das Pedras Mágicas. Oito livros. Três gerações. Muitas, muitas personagens, e muitos destinos e profecias a guiar os seus passos. Foi uma leitura que me acompanhou durante semanas e semanas, por isso é impossível não sentir saudades do imaginário de Sandra Carvalho. Tem os seus altos e os seus baixos, mas a escrita apaixonante é o que nos marca. Porque, no fim de tudo, não deve um livro sobretudo cativar-nos? A Saga das Pedras Mágicas cativou-me do início ao fim, não propriamente pela sua história (apesar de bastante bem pensada, teve momentos fantasiosos várias vezes exagerados) mas por uma escrita que em poucas palavras nos controla as emoções. Conheci muitas personagens e por todas elas senti uma ligação que só um óptimo escritor consegue criar.

É uma saga muito extensa, com imensos pormenores deixados como que ao acaso ao longo de todos os livros... Mas que serão peças fundamentais no fim. Algumas coisas ficaram por explicar, salvaguardando futuros livros no mesmo mundo das Pedras Mágicas (mas, por enquanto, como a autora já disse, não devemos manter essa expectativa). Mas, em geral, tudo aquilo que foi introduzido ao longo de toda a saga (e, entre demasiados enredos interligados, foi muito) acaba por se ligar eficazmente (o que é um dos pontos fortes destes livros, pois não só nos aguça a curiosidade como mostra que toda a obra foi bem pensada do início ao fim). O primeiro livro já vai longe, muito longe, e era impossível imaginar na altura a quantidade de reviravoltas que as vidas das personagens iriam sofrer. Mas lá está, quando pensamos em tudo o que aconteceu, reparamos como nada foi ao acaso.


Sombras da Noite Branca é o aguardado final da história de Kelda, que tem sido de longe a mais entusiasmante das três protagonistas. É nesta última parte que o Filho do Dragão ganha vida, tal como foi profetizado no início da saga! Talvez por isso tenha sido uma leitura tão empolgante, por ser o culminar da história, por as acções de todas as personagens se precipitarem neste fim. A maior parte do livro custou-me imenso parar de ler. Desde as cenas mais brutais (e logo ao início somos confrontados com a que foi, para mim, a cena mais violenta de toda a saga) até à última batalha, as emoções fortes são constantes. Incrível!

As últimas páginas, o rescaldo, foram para mim as menos entusiasmantes. Infelizmente, acho que este livro está recheado de coincidências e milagres demasiado fantasiosos para meu gosto. Não que a autora não tente explicar todos os fenómenos mágicos, mas mesmo essas explicações são muito pouco satisfatórias para quem quer ser convencido. É uma pena, porque a ideia com que fico do livro é que a maior parte dos maiores desafios ficou resolvida com relativa facilidade. Talvez a autora pudesse ter sido um pouco mais dura. Sim, queremos que as nossas personagens fiquem "felizes para sempre", mas é frustrante saber de antemão que tudo se resolverá no momento certo e todas as consequências serão ultrapassadas. Mas faz parte da escolha e imaginário de Sandra Carvalho, que certamente terminou como queria!

Não obstante os momentos menos convincentes, é tão ou mais emocionante que todos os outros livros juntos. É uma leitura que entretém e nos apaixona. Desde as primeiras palavras do primeiro livro que a magia de Sandra Carvalho nos cativou, prendendo-nos na sua narrativa, e raramente me consegui desligar dessa maravilhosa sensação. As personagens que ela criou tornaram-se reais, de tão humanas que as sentimos, e tão depressa as amamos como se podem tornar pessoas detestáveis.

Um ciclo fechou-se. Com uma história que nunca me deixou de entreter, a maior conclusão que retiro é: Sandra é uma escritora fenomenal, e isso vai para além das histórias que cria.


Sem comentários:

Quem também lê