quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Rio Equilibrium, de Ricardo Tomaz Alves

Há muito que o equilíbrio natural do universo foi afectado. Vida e Ethrom, anjo e demónio extraditados das origens, decidem por isso criar um ser que restaure o que foi destruído e reequilibre a natureza. É assim que é concebido Rio Equilibrium, um híbrido que possui o que de melhor e pior os criadores lhe transmitiram, lutando contra a própria harmonia. Trata-se de uma luta não só pessoal mas altruísta que trará uma nova esperança ao universo e a todos os seres que o habitam. Para ultrapassar os obstáculos, Rio contará com o auxílio de fortes personalidades que demonstrarão o valor e a importância da amizade. Esta é uma batalha que dará uma nova força à expressão “épico”, com batalhas titanescas e os seres mais bizarros, uns conhecidos do público, outros nem tanto. E isto é apenas o início…

Religião... Deus, Diabo, anjos, demónios... Pergunto-me, alguém não fica imediatamente entusiasmado com uma história que envolva tudo isso? Não só são elementos esplendorosos, que imediatamente nos captam o olhar e a atenção, como podem ser a premissa de mil e uma histórias diferentes e igualmente empolgantes.
Infelizmente, nada disso aconteceu neste livro.



Rio Equilibrium é um ser criado a partir das essências de um anjo e de um demónio, destinado a restaurar o equilíbrio perdido do Mundo. Perseguido pelos quatro Mestres do Inferno, receberá uma educação intensa em artes marciais e viaja pelo mundo inteiro lutando contra os seus inimigos e tentando restabelecer a paz. Uma história mal aproveitada... Que aliás pergunto-me se alguma vez foi uma história de se aproveitar. 

Onde está o conflito emocional de Rio Equilibrium? Não há lutas de vontades ou motivações, aliás não há quase nenhuma reflexão interessante ao longo da leitura. Tudo nesta obra é abordado da forma mais superficial possível! 
As cenas desenrolam-se umas atrás das outras, sem espaço para o leitor se envolver, quer seja com o enredo quer seja com as personagens. Há uma notória falta de estrutura, e o autor perde o seu fio condutor no que parece ser uma ânsia de escrever mais, sem dar um sentido e uma direcção que o leitor possa entender. Tudo se sucede rapidamente, as personagens são introduzidas e não há ligações, não há emoções entre elas. É suposto existirem, mas é impossível senti-lo ao longo da leitura de tal forma são atirados para a história!


Os clichés são imensos. Todo o percurso das personagens é um imenso cliché, e infelizmente nem isso é bem feito. É quase insofrível ver página após página o autor seguir constantemente os passos mais expectáveis, os resultados mais óbvios, as relações mais típicas, confirmando a banalidade do livro.
O autor parece sofrer de uma certa ânsia em escrever mais, e escrever muito, mas a maior parte das vezes é mais importante debruçarmo-nos seriamente numa única cena e estudá-la, reflectir sobre ela, aprofundá-la. 
Que se passou com este livro? Ricardo Tomaz Alvez parece ser uma pessoa fascinante: um escritor existencialista, músico, e co-fundador de uma editora musical. E certamente todas as suas influências e gostos seriam um bom ponto de partida para explorar a escrita. Mas há ainda uma falta de preparação muito grande (e que deveria ter sido apontada pelo editor antes mesmo do livro ser lançado, creio eu).

O fim promete uma continuação. Mas o que eu sinto é uma falta de leitura, a frustração de não ter lido aquilo que deveria ter lido. Estas tantas páginas não sabem a mais do que um rascunho, um rascunho preliminar de algo que precisa de ser mais pensado, de mais corta e cola, de mais profundidade. A escrita não deve ser um exercício tomado de ânimo leve, e creio que o autor precisa de treinar muito mais.



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