Como os meus seguidores sabem, encontro-me de momento a ler a série "O Primeiro Homem de Roma", de Colleen McCullough. Infelizmente, a editora que publicava os livros (Difel) extingiu-se. Como só tinha adquirido o primeiro livro, encaro-me com o problema de ter de encontrar os restantes SEIS livros (sim, vai ser uma bela aventura).
Ora, onde poderia encontrar estes livros já raros? Onde poderia encontrar edições anteriores do livro, talvez usadas, já que é impossível encontrar em qualquer livraria? Alfarrabistas, claro.
Eu cresci em Lisboa e cresci com os livros. A Rota dos Alfarrabistas fez, a partir de certa idade, parte de mim como leitor e como pessoa. Desde o Carmo ao Chiado, passando pelas pequenas e velhas ruas de Lisboa (que ainda hoje vou descobrindo), apaixonei-me pelas casas que não são lojas, são verdadeiras livrarias. Podemos comprar livros numa Fnac, mas numa livraria entramos num mundo cujo sangue são as letras. Os alfarrabistas de Lisboa proporcionaram-me esse prazer.
À medida que fui crescendo não deixei de me embrenhar por Lisboa. Sozinho, acompanhado, a qualquer dia e a qualquer hora, encontrar-me-ão a tentar perder-me numa cidade que já conheço bem. Infelizmente, o prazer de entrar num alfarrabista torna-se cada vez mais raro.
Metade de grandes livrarias desapareceram, levando consigo o que são para nós, leitores, autênticos tesouros. A metade que ainda está activa mal se aguenta, com alguns já a anunciar o para breve encerramento. Fiquei chocado com o número de casas fechadas e ainda mais chocado com o número de livrarias anunciando o seu fim. A justificação é sempre a mesma. Talvez não possa criticar um senhorio por exigir uma renda em atraso... Mas parece que estas exigências calham sempre àqueles que mais necessitam de ajuda e menos têm a quem recorrer. De qualquer forma, dói ver as ruas de uma cidade perderem a sua personalidade. Porque os alfarrabistas também fazem parte do espírito de Lisboa.
Fico mais do que triste. Fico indignado. Não pelos livros que não consigo encontrar, mas pelos leitores que não terão a oportunidade de viver uma Rota que já fazia parte da cultura lisboeta. Sei que isto é um desabafo quase inútil... Mas não quis deixar de relembrar um caminho que certamente encantou muitos mais do que apenas eu. Parece que está na moda desprezar o passado e as lições que ele nos pode oferecer. Talvez um dia se volte a dar valor às palavras eternas numas páginas amareladas.
2 comentários:
É mesmo triste, Pedro... Ainda há pouco tempo percorri as ruas de Lisboa, também estou à procura dos livros de Roma da Colleen e encontrei muitos fechados ou à beira de fechar:( Consegui muitos dela através das livrarias cheias de história!
É triste sim, muito triste.
Eu conheço muito bem essa rota, conheço os alfarrabistas todos e o que me magoou mais foi quando, um dia que lá ia, me deparei com a Barateira fechada. Imagina, a Barateira que já existia há 100 anos, era um local de culto, encontrava lá obras a 1€, clássicos, alguns de edições muito raras a 5€ e o senhor era impecável. Se não tinha, arranjava no espaço de 1 semana.
Não sei se são os sinais dos tempos, parece-me antes que é a subversão de valores que hoje se verifica e que apanha a cultura, neste caso a literatura.
Pessoalmente acho que nada vai ser como era antes. É um pouco como as tavernas. Há 30 anos havia tavernas aos "pontapés", agora são tão raras que até são motivo de excursões turísticas.
Em relação a esses livros, vais ter uma boa oportunidade na Feira do Livro. Vai lá logo no 1º ou 2º dia e questiona os alfarrabistas, é muito provável que encontres os livros todos a uns 7€/cada.
Caso contrário contacta por mail alguns alfarrabistas do país, pois a maioria envia os livros por correio. Eu já tenho feito isso.
Abraço!
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