Inserido na categoria de romance existencial, O Homem que preferiu não sentir conduz-nos numa viagem ao interior de nós mesmos, onde não faltam o confronto com a inevitabilidade da morte, as reflexões sobre famílias que se desestruturam e reestruturam ou as dúvidas que questionam os dogmas religiosos. A arte e a sua finalidade, a reescrita irónica de páginas da História e sobretudo as vivências de uma geração qualificada, mas desajustada à mediocridade da sociedade que os sistemas políticos teimam em perpetuar, brotam em páginas vivas de verdadeira prosa poética. É a afirmação da individualidade contra a subserviência de quem segue estandartes com sebastianismos imorredouros e por isso nos exige uma redescoberta de nós mesmos.
Publicado pela Chiado Editora, O Homem Que Preferiu Não Sentir é mais um pequeno livro escrito por um jovem aspirante a escritor, realizando um (talvez) sonho de ver uma obra sua nas estantes da nossa literatura.
Gonçalo Alves da Cunha sabe escrever. É certo que tanta palavra cara por vezes pode soar a forçado, mas pelo menos não são despropositadas. O discurso neste livro é próprio de um romance existencialista: divagador, difuso, pouco directo, com muitas expressões caras e um desafio à gramática, próprio de um intelectual tentando escrever no português mais difícil que consegue arranjar. Ao percorrer estas páginas, não entramos numa história, mas sim numa reflexão sobre o estado do mundo, os valores das gerações, ou apenas na aflição que atinge tantas vezes o nosso protagonista. Poético também, muito poético aliás, numa manifestação de ideias e reflexões que apesar de tudo não são difíceis de seguir. De facto, apesar das palavras caras, tudo aqui faz sentido, não existem embelezamentos ou floreados mas sim ideias concretas e bem expressas. Se é certo que o discurso usado é tão erudito que pode aborrecer certos leitores, pelo menos é um discurso com significado, onde as ideias estão bem formuladas e expostas. Não há enche-chouriços neste livro. Gonçalo Alves da Cunha escreve muito bem.
Infelizmente, aparte a sua escrita quase académica, Sebastião, o protagonista, não é uma personagem simpática, e a sua história não comove. Aliás, Sebastião exaspera-nos. Estão a ver aqueles jovens adultos, convencidos de que são mais iluminados que o resto do mundo, constantemente aborrecidos com o estado das coisas, e que apesar de passarem o dia sentados no sofá a ver televisão se questionam porque é que o mundo não lhes dá a glória que o seu talento merece? Aí está o Homem que Preferiu Não Sentir.
Um jovem pintor, acabado de sair da faculdade, é assaltado por mudanças de humor muito repentinas e sem aparente sentido (alguém precisa urgentemente de visitar um psiquiatra) e queixa-se frequentemente de um mundo que não tenta mudar, das pessoas e das suas atitudes quando ele é na verdade o pior de todos. Ó rapaz, passas a vida a queixar-te da inércia e inaptidão dos que te rodeiam, quando tu ainda menos fazes pela tua própria vida? Talvez a sua frustração nasça precisamente de se ver reflectido nas falhas e fracassos dos outros, talvez seja essa a interpretação deste livro. Não obstante, chegado ao fim do livro e ao fim da sua história, só me surgem duas palavras: drama queen.
Mesmo as suas divagações, ideias e pensamentos, nada oferecem de novo. São reflexões muito populares na era em que vivemos, não sugerem nada que já não tenha sido dito. São os mesmos pensamentos que ouço de qualquer outro jovem na mesma situação. Pior do que isso, este jovem em particular é tão pouco activo que nada faz para se mudar a ele próprio ou a vida que ele tanto despreza, o que faz toda a sua situação e queixume parecer demasiado ridículos. Torna-se, por todos estes motivos, difícil sentir simpatia pelo que estamos a ler
Talvez seja esse precisamente o objectivo: um retrato da juventude de hoje, protegidos durante os seus anos de estudos e sonhos, frustrada por se deparar com uma realidade que só demasiado tarde lhes é apresentada. E nesse caso, este livro será certamente um excelente exemplo para os estudiosos de hoje a cinquenta anos estudarem um pouco a geração de hoje.
Infelizmente, para mim, o livro não é mais do que uma repetição de ideias contestatárias proferidas centenas de vezes por aqueles que vêem o fim da sociedade nesta geração, e pior do que isso não oferece qualquer tipo de ajuda ou solução. O protagonista não tem motivações aparentes que devessem despertar tantas oscilações de humor (a sério, ou há muita coisa que não foi dita ou todas aquelas depressões não têm qualquer sentido e deveriam ser caso para psiquiatria) e tudo soa a um queixume de barriga cheia, cujo clímax parece demasiado precipitado.
Infelizmente, para mim, o livro não é mais do que uma repetição de ideias contestatárias proferidas centenas de vezes por aqueles que vêem o fim da sociedade nesta geração, e pior do que isso não oferece qualquer tipo de ajuda ou solução. O protagonista não tem motivações aparentes que devessem despertar tantas oscilações de humor (a sério, ou há muita coisa que não foi dita ou todas aquelas depressões não têm qualquer sentido e deveriam ser caso para psiquiatria) e tudo soa a um queixume de barriga cheia, cujo clímax parece demasiado precipitado.
Resumindo: muito boa escrita, pouco inovador em tudo o resto. Uma personagem pouco simpática e muito frustrante, cujas motivações não fazem muito sentido, com ideais que nada sugerem de novo.
Sebastião, o que tu és a mais do que os outros é dramático.
Sebastião, o que tu és a mais do que os outros é dramático.
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