terça-feira, 14 de julho de 2015

O Rei Veado, de Marion Zimmer Bradley

O presente volume constitui a terceira parte do monumental romance As Brumas de Avalon. Significativo da sua qualidade e simultânea popularidade, é o facto de alguns paises já se terem atingido a vigésima edição desta obra tão favoravelmente acolhida pela crítica mundial.


«Lemos o primeiro livro,
A Senhora da Magia. Esperamos pelos restantes para preencher a nossa avidez de mistério e de saudade daquela sabedoria inicial, que fomos perdendo na assimilação de culturas, quando éramos um com a terra.»
João Mattos e Silva,
Letras & Letras, Mai. 88

«Uma perspectiva alucinante e vertiginosa, de uma época onde tudo era possível através dos poderes das mulheres.»Mulheres, Fev. 88


«O ponto de vista das mulheres, sobre este ciclo de lendas, é, de facto, original e cativante. A prová-lo está o enorme sucesso editorial que a obra de Bradley suscita em toda a parte.»
A Capital, 26 Nov. 87

«Uma fascinante visão do mágico, do místico, do fantástico de eras perdidas do mito.»
D. S. Bruno,
Semanário, 22 Dez. 87 

«... um livro a reter como um retrato relativamente fiel de uma tradição, onde o fio da lenda (haverá coisas tão agradavelmente reais como as lendas arturianas?) é contado a partir de outra perspectiva, de outro olhar sobre o destino da História e do sentido de Avalon.»
Francisco José Veigas, Expresso, 5 Mar. 88 


Terceiro volume de As Brumas de Avalon... Apesar de serem bastante rápidos de ler (ainda não demorei mais de três dias a ler cada volume), não deixam de ser muitas páginas, não deixa de ser uma obra que abrange anos e anos. Personagens vão e vêm, nascem e morrem, e vamos ficando cada vez mais próximos das mulheres que protagonizam a lenda de Artur...

Infelizmente, O Rei Veado marca o início da tragédia. Daqui para a frente não há volta a dar e saber o que virá a acontecer apenas aumenta a dor. O destino é impiedoso.

Bradley continua a oferecer uma perspectiva empolgante de uma história épica. Somos presenteados com algumas surpresas, umas desagradáveis outras não tanto, e o destino de Avalon torna-se cada vez mais incerto. Será que o culto da Deusa, e a própria Deusa, sobreviverá? O que será de um mundo onde as brumas de Avalon se fecharão para sempre?

É um livro muito mais trágico do que os anteriores (a história está a chegar ao seu fim, já se adivinha os tempos difíceis), mas isso só torna a leitura ainda mais viciante.

Infelizmente, nem tudo são rosas, ou melhor dizendo não foi ainda assim uma leitura perfeita... Bradley desenvolve ainda mais o seu descontentamento pela religião cristã, o que nesta altura do campeonato já se tornou ódio. Já nos livros anteriores tinha notado esta forte vertente do livro, mas as bandeiras pelas quais Bradley luta contra a religião cristã eram sempre as mesmas e confiei que a autora fosse mais argumentativa com o passar das páginas. Não aconteceu. Uma discussão entre religiões é sempre interessante, mas os argumentos de Bradley são sempre os mesmos... Tal como já tinha reparado no volume anterior, a discussão teológica torna-se demasiado repetitiva e, mesmo que Bradley possa ter alguma razão, acaba por fartar o leitor.

Para além do ódio ao cristianismo, também me irritou bastante o outro lado da moeda: a defesa veemente das suas visões espirituais e da prática do culto da Deusa. Talvez esteja a deixar-me levar pelos meus "preconceitos" cristãos, mas qual a necessidade de Bradley em defender tanto uma relação incestuosa? Eu percebo que incesto não seja um pecado, sobretudo quando é inconsciante, mas Bradley glorifica-o. Haverá necessidade de glorificar relações incestuosas por uma alegada ligação espiritual? Não creio. Aliás, tudo o que envolva discussão espiritual e religiosa e teológica é incrivelmente conflituoso para mim ao ler este livro... Porque Bradley parece quase fanática nas suas ideias. Infelizmente, saber que foi acusada de abusar sexualmente a filha menor e de defender o marido pedófilo não me ajuda nada a ler com bons olhos as suas palavras.

Avanço para o próximo volume com entusiasmo. Depois de um início bastante morno, finalmente sinto-me agarrado depois do desenvolvimento saga. Como irá Bradley escolher o seu final? Que mais reviravoltas nos aguardam? Mal posso esperar pela conclusão.




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