quinta-feira, 10 de abril de 2014

O Guerreiro-Lobo, de Sandra Carvalho

Na sequência dos dramáticos acontecimentos que encerram o primeiro volume desta saga, Catelyn é levada com os seus captores para a Terra Antiga. Aí, a jovem feiticeira descobre os fios que entretecem o seu próprio destino com o daqueles que agora a acolhem. Descobre igualmente que aquele viquingue que a salvou de uma morte certa é alguém que ela já tinha vislumbrado em intrigantes visões. Throst, filho de Thorgrim, é agora o seu senhor. Mas os segredos do Universo, guardados no topo da Montanha Sagrada são indiferentes aos desígnios humanos. Catelyn, a neta de Aranwen, ao apoiar as mãos na Pedra do Tempo anseia por encontrar a solução para os enigmas que a atormentam, assim como por descobrir a identidade d'Aquele que irá orientá-la na aprendizagem da Arte Superior. No instante em que as suas mãos tocam a pedra mágica, a sua mente é transportada numa viagem inesperada que culminará em descobertas angustiantes. Quando o sangue derramado no mar clama por vingança, Catelyn enfrentará a mais difícil das decisões: regressar à Grande Ilha, para derrotar a hedionda Gwendalin e salvar o seu povo, ou permanecer na Terra Antiga, livrar o Guerreiro-Lobo da maldição que o condena, e ajudá-lo na sua grande missão? Para os muitos leitores que a autora já conquistou, e que esperavam por esta continuação de A Última Feiticeira, é o ansiado reencontro com a rara transparência da narrativa de Sandra Carvalho, arrastando-nos na vertigem e na ofuscante beleza do seu mundo fantástico construído com uma tão fina percepção que nos faz sentir completamente envolvidos nele.



A Saga das Pedras Mágicas, como se chama esta série, é composta por oito livros. É portanto uma história que se estende ao longo do tempo, atravessando gerações, onde as profecias falam de filhos cujos pais ainda estão por nascer, onde o Destino só pode ficar completo com o cumprimento das profecias.
A história da primeira geração que faz parte desta épica saga acaba com este segundo volume. E apesar de já estar preparado para continuar a seguir o destino dos filhos dos heróis, a segunda geração, onde as forças que movem o mundo vão batalhar ainda mais intensamente, não consigo deixar de sentir algumas saudades do que vai ficar para trás.
Catelyn foi uma protagonista à altura do desafio. Vulnerável e corajosa, apaixonada e obstinada, Sandra Carvalho conseguiu criar uma personagem que se adequou bem à história. Veremos se continuará a consegui-lo com os próximos livros.

O Guerreiro-Lobo ensina-nos imensas coisas. Se A Última Feiticeira começou por ser a história de Catelyn e os seus irmãos, amaldiçoados por uma bruxa maldita, e a sua luta em recuperar as suas vidas, este segundo livro mostra-nos que essa não a verdadeira história.

Esta é uma história de amor. Simples.
Não é a história da luta entre o Bem e o Mal. Não é a história de Feiticeiros e Humanos e os poderes misteriosos da Natureza. É uma história de amor entre Catelyn e Throst, duas pessoas de diferentes terras e destinados a ficar juntos.

Este livro está recheado de muita magia, portanto não será uma leitura adequada para quem não gosta de Literatura Fantástica que envolva feiticeiros a controlar os elementos com a força da mente.
Está também recheado de imensas profecias e Visões. Ao início fez-me confusão, visto que parece que a autora se baseia demasiado nas Visões que as personagens têm em relação ao seu futuro (não prima por uma abordagem muito realista). Mas, para além de uma história de amor, este livro é também sobre o Destino e como, aconteça o que acontecer, não importa quantas reviravoltas as forças humanas ou feiticeiras dêem, o Destino acaba por se concretizar sempre (bem, excepto raras excepções).

E, tal como no primeiro livro, Sandra Carvalho prova ser uma escritora excepcional, dotada daquele dom de agarrar o leitor com uma escrita simples e incrivelmente apaixonada. Quase sempre me vi agarrado a estas páginas, ao ponto de andar na rua sem conseguir tirar os olhos do livro. É uma excelente sensação!

Previsivelmente, a escritora ganhou alguma maturidade na construção das personagens. Apesar de algumas serem verdadeiramente más, e outras puramente boas, Sandra Carvalho deixa para trás o desenvolvimento básico e pouco profundo das personagens no primeiro livro e oferece-nos algumas mais interessantes (sobretudo Sigarr, um feiticeiro que apesar de praticante da Magia Negra não é de todo um tirano a odiar). A maior parte das personagens torna-se menos linear e acho que isso só ajuda a melhorar uma história que, por si só, é demasiado fantasiosa.

Mas não é de todo o livro que podia ser. E duvido que alguma vez seja. Para começar, a história torna-se incrivelmente confusa. Desde primos de primos de primos a histórias de avós com avós com primos dos primos dos avós, chega a altura em que mais vale avançar na leitura e esperar que o enredo passe sem termos de decorar essas relações todas. O que nos pode levar a pensar se, por muito extraordinária que seja a escrita da Sandra Carvalho, e é-lo, ainda tem alguma coisa a aprender em controlar a forma de contar uma história tão intrincada.

E apesar de tudo até ficaríamos mais satisfeitos se o livro se dedicasse de facto a esse enredo confuso... Se praticamente as 400 páginas não rivalizassem as histórias de amor mais lamechas da nossa geração (estou a ver-te Stephenie Meyer!). E é aborrecido... Muito. Tudo bem que isto é uma história de amor entre duas pessoas ligadas pelo destino mas separadas pela realidade das suas vidas, mas mais de metade do livro é passado com as duas personagens a queixarem-se que se amam muito, mas depois não podem amar, mas depois amam-se mais, e esta conversa toda cansa de vez em quando. Queremos romance, sim, mas não queremos um livro completamente baseado nisso. Bem, eu não quero, porque certamente servirá os intentos dos leitores mais apaixonados e que procuram esse tipo de distracções na leitura. Não queremos páginas e páginas de suspiros e promessas de amor e queixumes amorosos. É que quando chegamos às partes mais entusiasmantes (cenas de batalhas, sobretudo aquela grande batalha final já típica, ou mesmo a aprendizagem da magia ao longo do livro), estas acabam por ser mais curtas e menos desenvolvidas do que mereciam.

Tal como o primeiro livro, é em geral uma boa leitura e um óptimo entretenimento que nos deixa totalmente agarrados. Ao contrário do primeiro livro, é terrivelmente mais lamechas e a história fica muuuuuuito mais confusa, numa tentativa de já dar a entender que podemos esperar mais meia dúzia de livros pela frente. E é uma conclusão à primeira geração da Saga das Pedras Mágicas que deixa saudades, com as suas personagens que com o tempo se tornam muito fortes e às quais ganhámos carinho...


Sem comentários:

Quem também lê