O fantástico épico está novamente de parabéns com mais uma
estreia literária de uma autora portuguesa que a Presença propõe ao seu
público. Em A Saga das Pedras Mágicas os heróis, diz-nos
Sandra Carvalho, têm uma profunda ligação à Natureza e aos Elementos,
são apaixonados pela Vida e inteiramente determinados na sua coragem. A
acção passa-se num tempo em que os sábios Druidas se recolhiam nas
florestas para perpetuarem o Conhecimento que em eras passadas lhes fora
transmitido pelos Seres Mágicos. Mais precisamente, depois de a feiticeira Aranwen ter renunciado aos seus poderes mágicos para se casar com um mortal por quem se apaixonara. Para que esses poderes não se perdessem, ela guardou-os dentro de sete lindíssimas pedras formando um colar que viria a ser muito cobiçado. O berço da heroína desta história,
Catelyn, e dos seus cinco irmãos varões, situa-se na Grande Ilha, cada
vez mais fustigada pelos ataques dos Viquingues. Os senhores locais
formaram uma Aliança para os repelirem, consolidando essa política
através de casamentos combinados entre os herdeiros das grandes
famílias. Depois de uma infância paradisíaca, Catelyn cresce num mundo
cada vez mais violento, assistindo impotente às manipulações da maldosa
Myrna, a protegida do homem com quem o pai de Catelyn destinou casá-la. Só a Pedra do Tempo que se ergue imponente sobre o Norte do mundo guarda o segredo de um poderoso pacto de amor e sangue.
Depois de ler a impressionante saga Crónicas dos Senhores da Guerra, de Bernard Cornwell (sobre o Rei Artur, lembram-se?), vi-me numa espécie de impasse. Primeiro, gostei tanto desses livros que foi difícil escolher o seguinte. Segundo, quando nos embrenhamos numa série, é difícil passar pela adaptação de largá-la e voltar a pegar num livro diferente. E depois de ler O Silêncio dos Inocentes, que foi uma leitura um pouco menos entusiasmada do que estava à espera (apesar de suficientemente psicopata para me agarrar), percebi que precisava de voltar a pegar numa série, num conjunto de livros que voltasse a acompanhar-me e a crescer durante algum tempo. Decidi pegar na saga fantástica de Sandra Carvalho, que confesso já tenho por ler há demasiado tempo...
Já detentora de um estatuto de culto na Literatura Fantástica portuguesa, Sandra Carvalho é acima de tudo uma escritora apaixonada. Mais do que a história deste primeiro livro (que não é tão original quanto isso), Sandra Carvalho escreve com uma paixão e fluidez que deixarão poucos leitores impassíveis. Com apenas meia dúzia de palavras, deixa-nos agarrados. Se quer que amemos uma personagem, consegue-o. Se quer que odiemos alguém, ou que soframos por querermos com desespero saber qual será o destino das personagens, fá-lo-á com as suas palavras. Sem uma história que seja diferente ou mesmo bastante sólida (podia sê-lo mais, talvez o avançar dos livros o garanta), o sucesso torna-se garantido com a sua escrita intensa e apaixonada.
A protagonista, e narradora, é Catelyn, filha de um grande Lorde e descendente de uma Feiticeira. Vive alegremente com os seus irmãos até ao dia em que o seu sofrimento praticamente não pára. Misteriosos poderes mágicos, negros, atingem a sua família e a sua terra é ameaçada pelos estrangeiros Viquingues. Catelyn, contudo, é portadora da sua própria magia, muito mais poderosa do que ela própria imagina. E só isso vai permitir salvar a ela, à sua família e à sua terra natal.
As inúmeras comparações a A Filha da Floresta, de Juliet Marillier, são constantemente apontadas. Sim, é óbvio que Sandra Carvalho se inspirou nessa história de Marillier, tão óbvio que as comparações nem merecem ser críticas.
E, apesar de algumas variações, o enredo de Sandra Carvalho é notoriamente mais rebuscado e não tão aprofundado ou estudado, colocando a história num patamar mais juvenil do que a de Marillier. A história dos antepassados de Catelyn, a caracterização das personagens principais, pecam por alguns delírios demasiado fantasiosos, como um conto de fadas com um background simples e não particularmente inteligente e personagens de características muito estereótipas. Mas continuo à espera que, com o evoluir da série, e o amadurecimento da escritora, esta perspectiva mude e a obra adquira um tom mais maduro (sem, contudo, perder a sua Fantasia). Até porque não se pode pedir muito de um livro onde a Magia está tão presente.
Mas, como já disse, pouco incomoda até que ponto a história é ou não desenvolvida, porque a escrita é tudo. Não me lembro de uma única vez ao longo desta leitura ter sido fácil largar o livro, e isso deveu-se à escrita tão enfeitiçante de Sandra Carvalho. Espero sinceramente que ela não se perca ao longo dos oito volumes, pois prometem ser uma leitura viciante.
2 comentários:
Olá,
sou a Diana, uma fã incondicional da Saga das Pedras Mágicas! (Por isso escolhi este local para deixar este comentário apesar de não ser diretamente relacionado com "A Última Feiticeira".
Já li e apreciei bastante, vários livros que são mencionados aqui n'O Cantinho do Bookaholic'. Como tal gostaria de, primeiramente dar os parabéns pela iniciativa da partilha deste mundo. Por fim, gostaria de pedir recomendações do género da Saga das Pedras Mágicas:com muita fantasia, magia, personagens de personalidade forte, batalhas, mistério...
Saudações!
Olá Diana!
A primeira e mais importante sugestão é a trilogia Sevenwaters, de Juliet Marillier. "A Filha da Floresta", "O Filho das Sombras" e "A Filha da Profecia". São de leitura obrigatória! (devo dizer que o primeiro livro, "A Filha da Floresta", foi obviamente a inspiração para "A Última Feiticeira", as semelhanças são óbvias).
"As Brumas de Avalon", de Marion Zimmer Bradley (publicado em quatro livros) é também uma sugestão a seriamente considerar.
Boas leituras!
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