Quem já me acompanha há algum tempo sabe que sou um fã da saga de Peter V. Brett. Fiquei fã quando li O Homem Pintado pela primeira vez, surpreendido por uma obra tão empolgante, honesta, simples mas profunda.
A Guerra Diurna, como já tenho vindo a anunciar, será publicado muito em breve em Portugal (dia 1 de Outubro, anuncia a Fnac). E apesar de já ter um exemplar pronto para ser lido, não podia deixar de reler a obra desde o início (e rever alguns dos pormenores).
A segunda leitura foi tão boa quanto a primeira. Deixem-me dizer-vos que O Homem Pintado é um livro muito simples, longe dos enredos intrincados e imensidão de personagens que George R. R. Martin (para muitos o actual rei da Literatura Fantástica) nos oferece, longe das cidades e terras excepcionalmente descritas de J. R. R. Tolkien (para muitos o Deus da Literatura Fantástica).
Enganam-se aqueles que acham que isso significa alguma coisa. Em poucas páginas, ficamos completamente absorvidos pelos destinos de Arlen, um rapaz de aldeia que perde muito à garras dos demónios, que se levantam todas as noites para chacinar a raça humana, e se revolta contra a cobardia dos homens; Leesha, uma rapariga humilde com um dom para a arte das Ervas (a Medicina), mas com um destino repleto de más partidas; Rojer, uma criança que cedo perde os pais, e que crescerá educado como Jogral (um bobo).
Estas três personagens estão totalmente separadas durante a maior parte do livro, mas ao longo do tempo percebemos que cada um terá o seu papel na luta contra os demónios, uma raça que reduziu a Humanidade a apenas um vestígio (o que, é preciso confessar, dá bastante jeito quando um escritor não se quer cansar a desenvolver um mundo complexo, já que os demónios fizeram o trabalho de manter apenas um par de cidades totalmente vivas. O resto são meras aldeolas).
Não há como escapar às garras desta série. Não há como não torcer por cada uma das suas personagens. Não há como amar e odiar, não há como pôr o livro de parte, quando o que queremos é continuar a acompanhá-las e rezar por situações mais felizes nas suas vidas. Sim, é uma obra simples, com uma escrita nunca aborrecida e bastante fácil, mas Peter tem este dom incrível de criar personagens altamente bem desenvolvidas. O truque está nas personagens, desde os heróis até aos demónios. Por detrás de uma escrita simples, escondem-se personagens complexas, de motivações profundas, imensamente humanas. É como se se tratasse de uma tese sobre o medo (personificado nos demónios da noite), o humanismo, o heroísmo, a dúvida, a coragem, por detrás de uma obra de Fantasia. Enche-nos os olhos e o coração.
Nem sequer há segredos. Todas as personagens, conhecemo-las desde crianças. Não há mistérios por detrás de cada um, Peter não se deixa levar por esses truques, tão utilizados noutras obras. O único mistério é o futuro, e é por ele que continuamos a ler.
Não paro de aconselhar esta obra a qualquer pessoa. A não perder.
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