sábado, 15 de maio de 2010

O Jardim dos Segredos, de Kate Morton

Uma criança perdida. Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial uma criança é encontrada só, num barco que se dirigia à Austrália. A mulher misteriosa que prometera tomar conta dela tinha desaparecido sem deixar rasto.
Um terrível segredo. No seu 21.º aniversário, Nell Andrews descobre algo que mudará a sua vida para sempre. Décadas depois, embarca em busca da verdade, numa demanda que a conduz até à costa da Cornualha e à bela e misteriosa Mansão Blackhurst, em tempos propriedade da aristocrática família Mountrachet.
Uma herança misteriosa. Com o falecimento de Nell, a neta Cassandra recebe uma herança surpreendente. A Casa da Falésia e o seu jardim abandonado são famosos nas redondezas pelos segredos que ocultam - segredos sobre a família Mountrachet e a sua governanta, Eliza Makepeace, uma escritora de obscuros contos de fadas. É aqui que Cassandra irá por fim desvelar a verdade sobre a sua família e resolver o mistério de uma pequena criança perdida.


Estou tão perto. Sei disso. É o meu passado, quem sou, e estou prestes a descobrir.

Tenho pena de não ter lido o livro numa altura mais apropriada. Tê-lo-ia apreciado bem mais, certamente.

Kate Morton tem um dom inato para contar histórias. Se não é inato, tem-no de qualquer maneira.

O livro tem três partes: dois passados e um presente. Temos Nell, uma mulher que descobre que os seus pais são adoptivos, tendo-a encontrado abandonada com destino à Austrália. Essa revelação vai praticamente destruir-lhe a vida e afastá-la de todos. Até se decidir, finalmente, ir ao encontro da sua identidade, desvendar o grande segredo que é a sua vida. Isto em 1975.
Temos, depois, Cassandra, a neta de Nell. É ela que vai continuar a demanda da avó, que entretanto não pôde terminar a sua jornada (porquê? É um dos segredos do livro). O presente.
Finalmente, a história da família Mountrachet e de Eliza Makepeace. O seu envolvimento começa quando a primeira pista de todas é um livro de contos de fadas de Eliza Makepeace, que Nell trazia consigo, numa mala de viagem (único pertencente quando a encontraram), mas vamos ver ao longo do livro que tudo tem um sentido, e que estas personagens são o grande cerne de todos os segredos. Isto nos anos à volta de 1900.

O livro vai, então, mudando entre cada tempo. Um capítulo 2005, o próximo 1900, o outro 1975, e de novo 2005, e se calhar depois vai para 1975, e só depois para 1900... Parece confuso. Não que qualquer leitor não consiga seguir a história, mas à partida parece que custa a entrar neste esquema, saltando constantemente no tempo. Mas essa é uma das razões pela qual Morton tem um dom: não é confuso. Pelo contrário, essa estrutura só nos ajuda a querer continuar a ler, e a seguir logicamente o puzzle que a autora vai construindo, até ligar todos os elos que ficaram perdidos no tempo (não acho que Cassandra pudesse ser suficientemente bem sucedida em descobrir toda a verdade, como dá a entender, com as informações que tinha em mão, mas somos levados a crer que sim. Pelo menos o leitor sabe que no fim fica tudo bem esclarecido).

Esta autora é capaz de nos convencer de qualquer coisa. Quando Nell descobre que os pais não são seus pais biológicos, muda radicalmente de vida, ao ponto de deixar de falar com a família. Achei isso quase que parvo. Ainda assim, Morton consegue convencer-nos de que não haveria outra maneira de reagir...

Os segredos do passado formam um puzzle que o presente tem de desvendar, para que possa saber quem realmente é. Ao longo do livro somos confrontados com pequenas reviravoltas e pequenas revelações, e é quase impossível não prever aquele que é, acima de todos, o grande segredo da família Mountrachet e o que determina a identidade de Nell. Eu rapidamente percebi. Mas ao longo do livro ficamos boquiabertos com certos acontecimentos, e nem todo o final é previsível. Vi-me assombrado com o destino de Eliza Makepeace, de tal modo que pensei que iria chorar.

A par com uma história bastante bem construída, e que até se pode considerar bastante simples (dada a familiaridade e o pequeno círculo de mistérios, não estamos a falar de um segredo que condicione a humanidade, mas sim do segredo de uma família!), está uma escrita maravilhosa. Todas as descrições são sentidas. Nota-se que Morton tem gosto em escrever, e isso passa sempre para o leitor.
Acima de tudo, é um livro que dá gosto ler,  e de facto tenho pena de o ter lido numa altura em que estava pouco inspirado.

10 comentários:

Jojo disse...

Olá Pedro!

Eu gostei imenso deste livro. Foi o primeiro que li de Kate Morton. Ela é realmente, uma exímia contadora de histórias.

Tinkerbell disse...

tou a ler e adorar!jinhos**

Pedro disse...

Jojo,
também foi o meu primeiro, e fiquei muito impressionado =) Ela é uma autêntica Eliza Makepeace!
Acho que, se estivesse num momento mais positivo, teria dado mais meia estrela ao livro... Mas, ainda assim, foi sem dúvida com um enorme gosto que fui lendo a história destas gerações.

Tinkerbell,
espero que chegues ao fim extasiada então. Aliás, se já estás a gostar, não vais parar ;)

Boas leituras!

Rui Bastos disse...

Essa parte dos saltos no tempo deixa-me de pé atrás, mas se como dizes, não se torna confuso, só posso ficar curioso :p

Pedro disse...

Rui, esses saltos temporais são lógicos. Entrelaçam-se. Até ajudam a seguir a história! ;)

Jojo disse...

Adorei a tua comparação de Morton com a Eliza Makepeace. Simplesmente perfeita e adequada! Os contos da personagem no livro fizeram viajar à infância. Eliza é das três mulheres a minha favorita.

Pedro disse...

=D

Olha, por acaso... Também foi das minhas personagens preferidas ^^ Talvez tivesse gostado mais de ler os capítulos passados perto de 1900! E depois a Nell. Embora Eliza Makepeace faça parte da parte mais interessante da história (ou não fosse a mais fulcral), para mim Nell torna-se a personagem mais interessante de conhecer. Pela personalidade dela ;)não é uma mulher qualquer, e o que a move, o que nela se encerra, torna-a alguém curioso de explorar.

NLivros disse...

Viva Sôr Pedro.

Olha, embora não me tivesses convencido com esse livro, o que quero realçar é a tua excelente opinião.

Gostei!

Um abraço!

Pedro disse...

Obrigado pelo elogio!

Acho que era capaz de ter dado mais ênfase se quisesse... Deu-me muito gosto lê-lo, mas talvez escrevesse de maneira mais entusiasta se não tivesse lido o livro em plena crise literária.

anaaaatchim! disse...

A Tita já me deixou lá no blog a sugestão deste título... parece muito interessante mesmo!! Fiquei curiosa! =)

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