sexta-feira, 29 de maio de 2015

O Raio Verde, de Júlio Verne

Curiosamente, em tantos anos a escrever para este Cantinho, nunca publiquei uma crítica a um livro de Júlio Verne. Curioso porque ele é, na verdade, um dos meus escritores preferidos!

Na verdade, não é anormal de todo. Com tantos livros por ler, não são raras as vezes em que acabo por deixar de lado os meus escritores preferidos para apostar em novos autores ou outros livros soltos... Júlio Verne, Eça de Queiróz, José Saramago, Cormac McCarthy, Tolkien, Júlio Dinis, e tantos outros, vão esperando nas estantes por releituras.
Não obstante, continuam a ter um lugar de destaque nas minhas preferências.

Quanto a Júlio Verne, tenho várias dezenas de livros seus cá em casa, a maior parte por ler. Os seus mais conhecidos clássicos (Viagem ao Centro da Terra, A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, 20 000 Léguas Submarinas) alimentaram a minha imaginação e curiosidade ainda eu era miúdo. Desde então, ocasionalmente revisito as suas obras, mas não com a frequência devida.

Desta vez, decidi pegar neste romance muito pequeno (li-o num dia) baseado num fenómeno verídico: durante o pôr-do-sol, assim que o Sol cruza o horizonte, observa-se um raio verde acima do seu disco, que dura pouco mais de um segundo. O fenómeno, com uma explicação científica lógica, é relativamente raro e Verne decide dar-lhe um papel determinante na vida das personagens: reza a lenda que quem observar o Raio Verde verá claro no seu coração e no dos outros, limpando-o de ilusões e mentiras. Miss Campbell, uma rapariga mimada por dois tios bastante simpáticos (e ricos) decide não se casar até ver esse Raio! Os tios, que já lhe arranjaram um pretendente, acompanham-na portanto, ansiosos, nesta viagem para perseguir o Raio Verde.

O livro pouco tem de acção, ou sequer de história. Concretamente, o livro é um guia turístico da Escócia.
Talvez isto o torne um dos livros menos emocionantes que Verne escreveu. A história resume a várias tentativas falhadas de ver o Raio Verde, e muito rapidamente isso começa a parecer extremamente repetitivo. As personagens, excepcionalmente ricas (o que facilita imensamente a sua vida) não são particularmente criativas, apesar de adoráveis (sobretudo os tios). O resto da história é incrivelmente previsível (com a menina Campbell a apaixonar-se por um homem diferente do que os tios pretendiam inicialmente) e pouco relevante perante a lição de Geografia sobre as ilhas do Norte da Escócia.

Contudo, compreendam-me: não leio um livro de Verne há anos. Este regresso foi, por isso, bastante agradável, e o facto do livro ser tão descritivo e ter pouco ou nenhuma história não afectou de todo o meu fascínio por reencontrar a escrita de Júlio Verne. Aliás, fiquei sim com uma enorme vontade de ir já conhecer as maravilhosas ilhas que ele descreve (porque tudo aqui escrito é real!).

É Júlio Verne. Mais do que acção, oferece-nos uma dose excitante de conhecimento.
Por isso, sim, estará longe dos melhores livros de Verne, talvez seja bastante aborrecido para a maior parte dos leitores (acima de tudo os que não têm Verne como um escritor favorito). Mas as descrições das ilhas da Escócia são deliciosas, e o entusiasmo com que Verne nos guia nesta viagem turística é tão inebriante que não vejo como possa alguma vez ser cansativo.

Termino expondo o meu espanto em encontrar Verne a fazer da personagem conhecedora das Ciências Naturais a pessoa mais aborrecida de todas. Seria de esperar que um autor tão dedicado à ficção científica fizesse de um tal sábio alguém merecedor de mais atenção, e no entanto decide que o herói, o personagem cativante, seja o artista, o que prefere acreditar nos Deuses a criar as maravilhas naturais do que os fenómenos vulcânicos. Sem dúvida, Verne deixou-se levar por muitos clichés ao criar as personagens para esta história.


1 comentário:

Carla disse...

Olá,
Nunca li nada de Júlio Verne, fiquei curiosa com a tua opinião.
Boas leituras.

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