Ignatius Perrish passou a noite embriagado e a fazer coisas terríveis.
Na manhã seguinte acordou com uma ressaca tremenda, uma dor de cabeça violenta... e um par de cornos a sair-lhe das têmporas.
No início Ig pensou que os cornos eram uma alucinação, fruto de uma mente danificada pela fúria e pelo desgosto. Passara um ano inteiro num purgatório solitário e privado depois da morte da sua amada, Merrin Williams, violada e assassinada em circunstâncias inexplicáveis. Um colapso mental teria sido a coisa mais natural do mundo. Mas nada havia de natural nos cornos, que eram bem reais.
Em tempos, o íntegro Ig usufruíra da vida dos bem-aventurados: nascido numa família privilegiada, segundo filho de um músico de renome e o irmão mais novo de uma estrela televisiva em ascensão, Ig tinha estabilidade, dinheiro e um lugar na comunidade. Ele tinha tudo isto e ainda mais: Merrin e um amor assente em fantasias partilhadas, audácia e a improvável magia do Verão.
Mas a morte de Merrin destruiu tudo. O único suspeito do crime, Ig nunca foi acusado ou julgado. Mas também nunca foi ilibado. No tribunal da opinião pública de Gideon, New Hampshire, Ig é e será sempre culpado. Nada que ele possa dizer ou fazer importa. Todos o abandonaram e parece que o próprio Deus também. Todos com excepção do demónio que está dentro de si...
E, agora, Ig está possuído por um poder novo e terrível que condiz com o seu novo look assustador - um talento macabro que tenciona usar para descobrir o monstro que matou Merrin e que destruiu a sua vida. Ser bom e rezar para que tudo corresse bem não o levou a lado nenhum. Chegou a altura de pôr em prática uma pequena vingança... chegou a altura de o Diabo clamar o que lhe é devido...
"Cornos é demoniacamente bom... Hill é um escritor brilhante, com uma imaginação prodigiosa. Ele tem um talento especial para levar os leitores e as suas personagens até sítios muito estranhos." USA TODAY
Cornos é o último livro que leio em 2010. É uma boa despedida, pode-se dizer, mas não uma leitura capaz de marcar a data.
A sinopse diz tudo, e ainda que seja grande convido-vos a lê-la.
Trata-se de um bom livro. Inquestionável a qualidade que nos é apresentada: uma escrita bastante forte e sólida; uma imaginação prodigiosa; graficamente apelativo, ou seja que invoca imagens excepcionais. Sem dúvida, um bom livro. Não foi, contudo, uma leitura que me agarrasse a tempo inteiro, devido à maneira como o autor acabou por direccionar a sua narrativa.
Se tivermos em atenção alguns pormenores, facilmente conseguimos concluir a profunda relação que Hill transmite entre Deus, Diabo e Fé. Há imagens bastante fortes no livro que evocam esta "trindade" e que se debruçam sobre a realidade de cada um. É de louvar o trabalho profundo que Hill almeja, a evocação destes temas e a sua interpretação nesta história. Só por isso vale a pena "estudar" o livro. Não vai ser com a primeira leitura que conseguimos pensar nisto, mas sim quando damos por nós a pensar no livro ou a lê-lo uma segunda vez, com essa intenção. Realço uma cena em que Ig faz um "sermão às cobras": é esse tipo de passagens que são bem capazes de ficar para a história.
Fácil de acompanhar, ao longo do livro a tensão aumenta de uma maneira brutal. Não se trata de excitação mas sim de uma tensão que nos faz recear o que aí vem! Ainda assim, o que começa por ser uma narrativa bastante apelativa acaba por perder algum ânimo com a decisão do autor em relatar a juventude das personagens.
Compreendo que o objectivo do autor fosse fazer-nos conhecer melhor as suas personagens, quem sabe aproximar-nos delas. Não foi isso que aconteceu no meu caso. No início, Ig é-nos apresentados com cornos e com um poder verdadeiramente bizarro, muito ao estilo de Stephen King (pai de Joe Hill!). Ao pé dele, as pessoas não evitam confessar os seus pecados e os seus desejos mais ardentes. Não se inibem perante "o diabo", o que acaba por apresentar algumas situações bastante estranhas e divertidas!
Entretanto, interrompendo uma narrativa cada vez mais cativante, Hill interrompe a história do "diabo" para voltar atrás no tempo, até à juventude de Ig. Esta acaba por ocupar grande parte do livro e acabou por me aborrecer um pouco, pois não me cativou nem me deixou mais agarrado à história. Foi uma maneira na minha opinião insatisfatória de apresentar as personagens a todos os níveis.
Fiquei com curiosidade de ler outros trabalhos de Hill, nomeadamente "A Caixa em Forma de Coração", publicado em Portugal pela Civilização. Ainda que não tenha gostado muito do lado mais realista e sério de Hill, fiquei completamente fã da sua imaginação fantástica! E, afinal, "Cornos" é um bom livro, um Bom bastante sólido, ainda que como leitura a mim tenha falhado em umas poucas situações.
1 comentário:
Por este livro não posso falar mas há relativamente pouco tempo li “A Caixa em Forma de Coração” e fiquei “underwhelmed”. É um livro escrito de forma competente mas não é a obra extraordinária ou única que se pensaria.
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