sábado, 2 de outubro de 2010

Hex Hall, de Rachel Hawkins

“Abrir Hex Hall foi como abrir uma caixa de chocolates, ao revelar-se impossível de exercer qualquer tipo de auto-controlo! Houve, pelo menos, uma gargalhada por página, uma protagonista esperta e auto-depreciativa, Sophie Mercer, e um misterioso assassino que fez com que as páginas passassem por si próprias, ou se calhar a culpa foi de um dos Prodigium! Conclusão, fui enfeitiçada por Sophie Mercer!”
Becca Fitzpatrick, autora de
Hush, Hush

Virei-me para sair, mas a porta fechou-se a poucos centímetros da minha cara. De repente, um vento pareceu soprar através da sala e as fotografias nas paredes chocalharam. Quando me virei de novo para as raparigas, estavam as três a sorrir, os cabelos a ondularem-lhes a volta dos rostos como se estivessem debaixo de água.
O único candeeiro da sala tremeluziu, e apagou-se. Eu apenas conseguia distinguir faixas prateadas de luz que passavam sob a pele das raparigas, como mercúrio. Até os seus olhos brilhavam.
Começaram a levitar, as pontas dos sapatos regulamentares de Hecate mal tocando a carpete musgosa. Agora, já não eram rainhas do baile de finalistas, nem supermodelos - eram bruxas, e até pareciam perigosas.
Apesar de me debater contra a vontade de cair de joelhos e colocar as mãos acima da cabeça, pensei, "Eu também seria capaz de fazer aquilo?".

Este é um livro um pouco difícil de dizer se "gostei" ou se "gostei muito". Gostei muito da leitura, mas... gostei do livro.

Sophie Mercer é uma bruxa. Quando começa a atrair atenções, é enviada para Hecate Hall, onde bruxas, fadas e mutáveis são ensinados e mantém-se longe dos olhares humanos. No entanto, enquanto todos os alunos viveram uma vida inteira no mundo da Magia, Sophie viveu com a sua mãe, humana, separada do pai, feiticeiro, e sem qualquer conhecimento do que é o mundo mágico. Se integrar-se em Hex Hall já é difícil, uma ameaça eminente vai dificultar ainda mais a vida de Sophie...

"Hex Hall" é, infelizmente, demasiado parecido à saga de Harry Potter. Muito embora tenha as suas nuances, não consegui deixar de reparar nisso até ao fim do livro. Não que essa óbvia inspiração tire qualidade à obra; ainda assim, a ideia de que "isto não é novo" não me saiu da cabeça. Rachel Hawkins poderia ter explorado o mesmo mundo, mas talvez num ambiente diferente. Quem sabe, talvez devesse ser mais negro? Teria sido fabuloso, na minha opinião, se Hecate Hall tivesse um ambiente que a distanciasse de escolas como Hogwarts.
Para além disso, não perderia nada em ser um bocadinho maior (a história já em si não pede mais do que um livro, e se Harry Potter é uma saga de sete livros, Hex Hall bem que poderia ter sido um bocado maior para dar espaço ao leitor de se habituar ao espaço, de digerir bem as tantas peripécias que vão acontecendo. Sei que estou a repetir demasiado esta comparação, mas Hex Hall dava bastante bem dois livros de Harry Potter).
Por isso mesmo, não consigo deixar de sentir que não adorei quanto podia.

A verdade, contudo, é clara: este é um livro de imenso potencial. Embora a história tenha princípio, meio e fim, já está a ser escrita a sequela, que promete ser bombástica. Sem ser uma história muito detalhada (será que valeria a pena sê-lo?), desde as primeiras páginas que nos cativa, mesmo com um ambiente já familiar. O final, uma verdadeira reviravolta, deixa o leitor boquiaberto e a querer mais, depois de ter passado 200 páginas agarrado ao mistério que se foi desenvolvendo.

E Sophie Mercer. A protagonista. Não há dúvidas: poucas personagens são tão simpáticas ao leitor quanto esta. Sophie é a razão pela qual continuamos a ler; a razão pela qual ocasionalmente nos rimos, pois a maneira como ela fala consegue ser comicamente sarcástica; a razão pela qual este livro é tão bom e tão grande potencial tem. Sophie faz-nos esquecer a história "à Harry Potter", aqueles momentos que exigiam um pouco mais de drama, Sophie é da primeira à última página uma protagonista por excelência. Engraçada, esperta, muito bem desenvolvida e bastante bem consolidada, não há nada que não tenha que não seja ideal. Desde a primeira página que simpatizamos com a sua atitude, e até à última só vamos ficando cada vez mais cativados. Ela própria parece reconhecer que está no meio de um cenário tudo menos normal. Embora seja bruxa, é acima de tudo humana, e isso é como termos uma amiga de confiança no meio daquela escola mágica.

Portanto, resumindo e baralhando: aconselhado. Completamente. Não foi, ao contrário do que ainda fui levado a pensar, uma leitura nova e diferente, mas ao mesmo tempo é entusiasmante notar que vão surgindo livros deste potencial. É muita pena que a história, o enredo em si, não seja um pouco mais original, um pouco mais afastado do famoso ambiente de Harry Potter, mas nunca seria por isso que deixaria de aconselhar a leitura do livro. É uma excelente leitura, com excelentes personagens, uma protagonista esplêndida, e que afinal de contas nos vais surpreendendo com o virar das páginas. A destacar.

4 comentários:

Elphaba disse...

Já tinha ouvido falar da comparação ao Harry Potter como senão do livro… mas todas as outras qualidades em torno da personagem Sophie que citas-te fazem com que continue a desejar bastante esta leitura. Bom post.*

Maria João disse...

olá
não o consigo descobrir em lado nenhum e gostei tanto da sinopse

Pedro disse...

Elphaba J.,
sim, a personagem é de facto espectacular. Só não achei, ao contrário de alguns outros leitores, que o livro consiga realmente "desligar-se" do ambiente a que Harry Potter nos habituou. Senti que estava a ler a saga de J. K. Rowling num único livro.

Pedro disse...

Maria João, eu creio que já foi lançado! Pelo menos fica atenta este mês de Outubro ;)

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