«Black Out - A Cortina da Memória está destinado a ser um êxito. Um thriller cheio de reviravoltas. Agarre-se bem, é uma viagem assustadora!» - Bookreporter
Num primeiro olhar, a vida de Annie Power parece feliz, quase idílica. Vive num bairro rico, na Florida, com um marido que a adora, Gray, e uma filha ainda pequena, Victory. Mas, subitamente, os demónios de um passado que Annie preferia a todo o custo esquecer começam a rondá-la, a martirizá-la, trazendo-lhe memórias de alguém que ela foi um dia. Annie vê-se envolta numa espiral ascendente de puro terror à medida que as ameaças vão assumindo contornos mais perversos e que luta desesperadamente por recuperar as memórias malditas que poderão ser a única forma de se defender a si mesma e a Victory. Afinal, Marlowe Geary, o serial killer que conheceu anos antes, pode não ter morrido, como Annie sempre pensara, e pode, na verdade, estar de volta, a um passo de aniquilá-la. Um thriller de altíssima voltagem que nos faz sentir, literalmente, no fio da navalha.
Como alguns saberão, não sou fã de policiais.
Arranjo muitas justificações para tal. Eu adoro o enredo de uma história e adoro sentir-me ligado às personagens. Acima de tudo, adoro quando essas personagens se ligam entre si, quando há aquele sentimentalismo todo, e quando roemos as unhas para que haja justiça e todos se encontrem no fim, finalmente, merecidamente. Se não, gosto de verter aquelas lágrimas de emoção.
Este tipo de sentimentalismo não é, na maior parte dos policiais, característico. Temos várias personagens, sim, uma data de ligações entre elas, mas no fim tudo isso tem de ir dar ao culpado da cena. Perde-se o desenvolvimento das personagens em si para nos concentrarmos nas relações entre elas. É por isso que acho muito mais emocionante um livro que não um policial.
Encontro-me, desta vez, a ler um thriller policial. Um em que temos a vítima, Annie Powers, que vive uma vida luxuosa, mas que é uma farsa: o seu verdadeiro nome é Ophelia March, e viveu uma juventude traumatizante, ao lado de um assassino em série. Entretanto, Marlowe, o assassino, morreu, e Ophelia foi dada como morta para que pudesse assumir uma outra identidade. Para que pudesse começar uma nova vida.
Mas isso é possível? É possível começar uma nova vida, no meio da nossa vida? Ou o passado e o futuro não são mais do que dois momentos embrulhados dentro do mesmo saco que é o Tempo, e que portanto se confrontam constantemente?
O problema é que Annie sofre de um distúrbio mental, pelo que o seu passado é recheado de black outs - fugas de memória. Muito do que ela viveu está escondido no seu subconsciente.
Até que, agora casada com o homem que a salvou e com uma filha, depara-se com várias pistas que lhe parecem indicar que Marlowe não está, como todos lhe garantem, morto! Pior que isso, até que ponto se encontra ela mentalmente doente, e até que ponto pode confiar nos seus olhos, nos seus movimentos - ou mesmo nas pessoas que a rodeiam?
Assim começa o nosso livro, que é fortemente aplaudido pela crítica devido à sua escrita de grande qualidade, mas ligeiramente visto como confuso e com um enredo que nos deixa desorientados, por fim.
Eu tenho a dizer que este livro me levou aos mais altos níveis de voltagem, como bem diz a Presença. Desde a primeira página que fui apanhado por um vórtice de mistério, de suspeitas, que me fez ficar frenético durante toda a leitura. Se dizia que não gostava de policiais, vou ter de reconsiderar essa observação depois de ler este livro de Unger.
Capítulo a capítulo, a autora vai alternando do passado para o presente para o futuro, revelando-nos a vida de Ophelia March aos poucos e poucos e avançando na busca de Annie Powers em função dessa descoberta do passado. É nesta alternância que encontramos uma escrita da mais alta qualidade, que agarra o leitor desde a primeira frase e que transmite no ponto o que nos quer dar: emoção, frenesim, adrenalina, excitação. Sem dúvida, Lisa Unger tem o dom da escrita, e isso é fabuloso de se encontrar num thriller como este. Torna a leitura totalmente arrebatadora.
O facto da autora alternar os vários momentos temporais não é a parte confusa. Pelo contrário, torna o livro apelativo e dá-nos vontade de querer continuar cada busca.
A parte confusa entra quando a premissa do livro se torna mais do que apenas a suspeita do regresso do serial killer. Afinal, todos estão envolvidos na troca de identidade de Ophelia, desde o marido aos sogros. Até que ponto os black outs de Annie escondem a verdade que os próprios envolvidos escondem dela? Quando damos por nós, estamos agarrados a uma história onde as aparências enganam, ninguém se esquece e a realidade se confunde com a ficção que a mente de Annie cria.
Reviravoltas atrás de reviravoltas. Este livro surpreende-nos totalmente, quando pensamos que as coisas não podiam ser mais do que aquilo. Até à última página, somos confrontados com verdades que até ali tinham sido mentiras, e depois com mentiras que até ali tinham sido verdades, e o choque é ainda maior quando nos apercebemos que não podemos confiar em ninguém - e que o problema de Annie não é a vida de Marlowe, mas a sua vida.
Portanto, chegamos ao fim e há a ligeira sensação de que certos acontecimentos que se pensava ser imaginação de Annie foram de facto reais, mas por outro lado não temos essa segurança. Sinceramente, acho que quem se sentiu confuso no final não leu bem. Eu fiquei suficientemente elucidado com a verdade dos factos, com o verdadeiro papel de todas as personagens, com o verdadeiro desenlace. Se houve quem ficasse confuso ao chegar ao fim do livro, então não leu o que devia, e tornou-se a própria Annie nas primeiras páginas.
Depois de tantas surpresas, não podia ter acabado de outra maneira, e tem o final merecido! Depois de uma leitura de tão alta tensão, fecha-se o livro totalmente satisfeito.
É mais do que a melhor leitura para quem gosta de suspense. Aliado a uma escrita fenomenal, encontramos um enredo de tal maneira intrincado que só uma boa escritora poderia tê-lo feito com sucesso, e isso acontece aqui. Fiquei impressionado com a qualidade de escrita demonstrada. Isto, sim é um romance psicológico deveras bem escrito!!!
Adorei o livro e custou-me pô-lo de lado até acabar. Supera as expectativas que referi de um policial: mais do que um enredo bem construído, não se limita a apenas uma premissa e desenvolve as suas personagens, quer Annie ou Ophelia quer quem foi envolvido nesta dupla vida. Assim como poucos livros conseguem manter um nível de suspense constante, também poucos conseguem desenvolver como este as suas personagens.
Em jeito de conclusão: tudo aquilo que acho que Lisa Unger quis escrever, quis desenvolver, fê-lo com imenso sucesso. Aconselho vivamente esta leitura. Para nos surpreender.
2 comentários:
Tens comentários de imensos livros que tenho na estante em lista de espera.
Este é um deles, e depois do teu comentário acho que o vou passar para prioritário.
Gosto muito das tuas criticas.
Este livro impressionou-me bastante. Não sendo fã de policiais, facilmente entrei no enredo deste, e largá-lo custava-me muitas vezes! Acho que não vais ficar com pena de o ter passado para prioritário =)
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