domingo, 8 de novembro de 2009

A Nona Vida de Louis Drax, de Liz Jensen

«Estranho e maravilhoso. Um romance psicológico perturbante sobre a transgressão e os mistérios do subconsciente.» People

Louis Drax é um miúdo de nove anos, precoce, inteligente, problemático e muito dado a acidentes. Sofreu pelo menos um episódio maior, acidente ou doença, em cada ano da sua curta vida, mas sobrevive sempre como o gato que cai sobre as quatro patas. Durante o piquenique familiar por altura do seu nono aniversário, cumpre-se a maldição que parece assombrá-lo, cai do alto de uma falésia e afoga-se num rio permanecendo num coma profundo de onde poderá não regressar. Tão dramático e dúbio acontecimento implica também o misterioso desaparecimento do pai de Louis, Pierre Drax. Louis acaba por ficar ao cuidado de Pascal Dannachet, um neurologista que acredita em coisas que os outros médicos não acreditam. Em simultâneo, desenrola-se uma investigação policial para tentar encontrar o principal "suspeito" do que poderá ter sido um crime, o desaparecido pai. Esta história brilhante e impecavelmente arquitectada, cheia de um irreverente humor negro e intensamente empolgante, é contada a duas vozes: a do próprio Louis, dentro do seu inacessível subconsciente, e a do neurologista, que não consegue resistir à sedução de Natalie Drax, a sofredora e vitimizada mãe de Louis.

As expectativas para este livro eram elevadíssimas. Porquê? Porque este ano tenho experimentado algumas pérolas de "humor negro", e esta história é, acima de tudo, um choque. Até o título dá que pensar, não é?

Não posso dizer que tenha correspondido às expectativas... Aliás, não achei que este fosse um romance cheio de humor negro, mas sim um romance mais perturbante sobre os mistérios da inconsciência. A história não é NADA do que estava à espera, e por um lado não foi bom.

Antes de mais, a deliciosa escrita de Liz Jensen! Pessoalmente, acho que este não é um bom livro, mas sim uma excelente escritora! Se há coisa maravilhosa neste romance é a escrita da autora, que nos agarra magistralmente. São palavras deliciosas que percorremos com um enorme prazer, e confesso que fiquei curioso em conhecer outros livros de Jensen...

O facto de este ser um livro contado a duas vozes foi a menos-valia. Porque, se a narração de Louis Drax é viciante, é extraordinária, quase genial, a narração de Dannachet chega a ser arrastada, obsessiva, chata.
Louis é uma criança, mas mesmo em coma é das mais espertas que existem. E quando fala, sentimos que estamos perante uma percepção genial do mundo e de quem o rodeia! É uma personagem fascinante a todos os níveis, não só pela inteligência, não só pela sua má fortuna, mas talvez também por ser a personagem que está directamente envolvida nesse mundo subconsciente, e por isso nos apresenta divagações francamente inventivas, difíceis de parar de ler.
Já Dannachet envereda por divagações chatas, obsessivas. A maneira como o vi envolver-se no caso de Louis Drax foi-me, confesso, um bocado cansativo. A certa altura fartei de todo o seu palavreado, do seu "nem anda nem desanda", e estive mortinho por voltar a enterrar-me na inconsciência de Louis. Infelizmente, foi esta segunda voz que me desmanchou muito, muito mesmo do que poderia ter achado deste livro.

Ainda assim, o que começa por ser um mistério aparentemente sem resolução, acaba por ser um verdadeiro "twist". Eu já estava à espera: não fiquei totalmente surpreendido. Mas admirei a capacidade da autora criar um enredo verdadeiramente cativante, e uma conclusão que deixará qualquer leitor agarrado ao livro, agarrado à verdade que subitamente nos deixa tão admirados. Muito bem.

Sem ser um livro que considere "único" ou "extraordinário", e sendo ainda mais "terra-à-terra" do que estava à espera, sei que muita gente vai querer lê-lo, e não sem razão. Não é essencial, não o leria já amanhã, mas mais cedo ou mais tarde acabará por chamar a atenção do leitor. E é, de facto, um tempo que não dou por perdido.

3 comentários:

Nuno Chaves disse...

Estou Bastante Curioso para ler este livro. tenho ouvido criticas excelentes ... mas agora fiquei um pouco renitente dada a tua critica.

Páginas Desfolhadas disse...

Olá:

Tens um mimo à espera no Páginas Desfolhadas.

Boas Leituras!

Pedro disse...

Nuno Chaves,
o livro é muito bom, atenção!
Mas, mesmo já sendo pequeno, acho que ali no meio se arrastou um bocadinho... E foi mais policial que eu pensava. Eu é que estava à espera de outro tipo de livro, mea culpa!

Páginas Desfolhadas,
obrigado pelo miminho, quando puder passo por lá para o recolher! ;)

Boas leituras.

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