domingo, 3 de agosto de 2008

O Papalagui, discursos de Tuiavii chefe de tribo de Tiavéa nos mares do Sul


Devo dizer que é muito difícil dizer se gostei ou não deste livro.

Em primeiro lugar, realço que é uma boa obra, que poderá ser considerada uma referência da literatura mundial e que, sem dúvida, preenche as nossas bibliotecas.

No entanto... Como habitante desta sociedade, é um pouco difícil concordar com certas teorias.

É importante ver que quem fala é um homem desprovido de civilização. É o "bom selvagem" de Rousseau. Tem um ponto de vista que, para nós, poderá parecer limitado, mas que para ele é infinito.

Ele fala da nossa civilização como um demónio. Nada deste livro é positivo, apenas negativo! Nós devemos ser as pessoas mais repugnantes neste mundo, segundo o livro. Mas esse ponto de vista não me impediu de ver a obra como algo interessante, uma análise que poderia resultar numa discussão muito, muito empolgante.

Porém (não sei se por, desde os anos 20, isto ter evoluído alguma coisa), muitas das coisas li e não concordei! Neguei completamente, porque acho que não está a ter razão no que diz! Eu posso não compreender a sua maneira de viver (e contudo como leitor e sabedor compreendo), no entanto ele também tem de ter a mente aberta e compreender o meu modo de vida! Por isso, algumas afirmações do livro são, para mim, ditas por um puritano, que fala da sua maravilhosa vida mas que, quando nos critica, se esquece desses seus ideais, e que poderão ser-nos aplicados.

Mas esquecendo esses vários contrastes, muitas coisas também concordei! Aliás, achei este livro muitíssimo inteligente em certos casos, e certas citações passei a utilizar como pretexto de discussão (citações que são puramente verdadeiras). Por isso, acabei por achar o livro muito interessante. O único problema poderá ser que, ao contrário de outros livros, este não serve para adquirir outros pontos de vista, mas só e somente para um único ponto de vista, sem qualquer consideração por outras perspectivas! Só depois de lermos o livro é que nós, leitores, poderemos pegar nessa perspectiva e passá-la para a discussão. Até lá, temos de enfrentar apenas a verdade do escritor, ou contestá-la se possível.

O livro não segue nenhum fio condutor, são antes capítulos que estudam a nossa civilização segundo vários temas, um aviso para a tribo deste chefe do mal da civilização.

Falo também das ilustrações que acompanham o livro, e que nos ajudam a compreender o texto. No fim do livro, uma pequena banda desenhada resume alguns aspectos desta análise, e o óbvio, depois de lermos o livro, é visível: por muito que queiramos mudar de vida, é demasiado tarde: esse "bom selvagem" é um sonho para nós enquanto cidadãos.

É um livro pequeno mas enorme. Poucas páginas, mas cheio de informação, maior do que parece. Muito "sumo" ;)

Portanto... Como disse, fiquei com várias imagens deste livro, e por isso creio que não perdem nada em ler o livro, pois tanto poderão gostar como não, mas de certeza que aprenderão e que não só enriquece a vossa biblioteca como o vosso saber, a vossa discussão. Se não estão interessados, então não insisto. Mas acho que acabou por valer a pena a leitura...

7 comentários:

AnaD disse...

Todo o livro é uma metáfora não se pode lê-lo no sentido literal.
Eu continuo a achar que este livro é essencial em qualquer biblioteca e uma excelente metáfora da nossa sociedade.

Pedro disse...

Uma vez que analisa o nosso mundo, a metáfora é inevitável, e como disse torna-se muito inteligente! Mas tendo em conta as circunstâncias em que foi escrito, acho que também se pode avaliar pelo sentido literal.
É uma excelente descrição da nossa sociedade, sem dúvida, e como disse qualquer biblioteca fica enriquecida. Este é daqueles livros que se poderá ler de várias formas, e no meu caso encontrei várias facetas que me ajudaram a fazer vários juízos de valor. Aconselho a leitura para qualquer um, mas se há outros livros à frente acho que não insisto... Apenas fica a sugestão no ar, para que, quando virem o livro, peguem nele!

Célia M. disse...

À partida, não é o tipo de livro que mais me atrai, isto porque prefiro ficção, de longe. Contudo, por vezes é preciso variar e acredito que este tenha o seu interesse...

Sofia disse...

A tua opinião deixou-me realmente intrigada quanto a este livro. Gosto de livros que me levem a reflectir interiormente. Sou bem capaz de o comprar em breve ;)

Cristina disse...

Não é o meu género de livro, mas, às vezes, precisamos de ler este tipo para compreendermos a nossa sociedade e, sobretudo, valorizarmos o que temos à nossa disposição.

Depois conta como foi a tua leitura actual. Ganhei o livro na Feira do Livro.

Boas leituras!

Pedro disse...

Canochinha,
ultimamente estou numa mó de variar as leituras, mas também prefiro de longe ficção.
Tem o seu interesse... Fica a sugestão ;)

Sofia,
se gostas deste tipo de livros, então é o ideal. Faz-te reflectir, sem sombra de dúvidas, gostes ou não!

Cristina,
acho que não nos devemos limitar ao nosso género preferido de leitura, mas creio que a partir de agora só vou ler livros de ficção =)
Ainda tenho uns postes de opiniões de livros durante as férias para escrever, mas como sempre darei a minha opinião... ;)

João disse...

Fiquei sem dúvida interessado, mas não me vejo a ler num futuro próximo! Fica a sugestão... ;)

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