quinta-feira, 8 de maio de 2008

O Rapaz do Rio, de Tim Bowler


Depois daquele Verão, Jess tornou-se uma pessoa diferente. Não só porque perdera o avô com quem tinha um entendimento tão especial que ficava para além de tudo o que as palavras pudessem dizer. Talvez por isso Jess amasse tanto a água, esse elemento líquido com que ela se identificava, que ela cortava e moldava com o esplêndido corpo de nadadora, como se só assim pudesse exprimir-se verdadeiramente. Talvez por isso, o avô, que sempre vivera para a pintura, precisamente agora que a sua vida chegara ao fim, sentia aquela extrema urgência de terminar o último quadro, "O Rapaz do Rio", e de voltar para a terra que o vira nascer e onde havia um rio igual ao do quadro. Mas onde estava o rapaz? Jess não conseguia compreender, contudo sentia o apelo, que era o mesmo no quadro e na realidade, ali mesmo ao lado da casa de férias por onde corriam as águas. Te-lo-á Jess descoberto alguma vez? E como irá ela superar a perda daquele avô tão querido? Como irá descobrir-se a si própria, ela, a nadadora que o rio desafiava com a ambiguidade fugidia dos sonhos?

"O Rapaz do Rio" foi agraciado com o prémio Carnegie Medal em 1998.



Já tinha este livro na minha lista há imenso tempo. Até que chegou uma altura e risquei-o. Logo depois, pego nele e compro-o.
Pois, enfim, era um dos poucos livros que me interessavam naquela feira, portanto foi!

Sinceramente, nunca soube muito bem o que esperar do livro. Ou melhor, tinha as minhas expectativas, mas não sabia nada sobre o livro e nem lendo o resumo consegui chegar a algum lado.
Comecei a ler e depressa me apercebi do tipo de livro. Em primeiro lugar, a acção é pouca e a descrição predomina. Já estava à espera disso, e estava à espera que essa descrição fosse bela e simples, bela sobretudo. Tudo bem, até é boa, mas a verdade é que não é tão bela como o que esperava. A princípio.
Depois, é um livro à partida entre o melancólico, o angustioso e o nostálgico. Não encontrei aquela vida que pensava que tinha, a princípio. As personagens são o centro da história, e são elas que a fazem: tudo tem a ver com a busca de algo, com a realização e com a aceitação de certas coisas, como a morte. A neta teme a morte do avô e procura uma resposta com o rio; o avô, antes da sua hora final, quer sentir-se realizado e completar o quadro misterioso d’”O Rapaz do Rio”, o qual apoquenta todos na casa; o rapaz do rio, essa personagem misteriosa que não aparece no quadro mas aparece nadando no rio ao lado da casa.
Uma espécie de puzzle de personagens e sentimentos, e a aceitação da morte é um tema predominante. Ao longo do livro, as personagens vão explorando os seus receios, dúvidas e esperanças.

Portanto, um livro um bocado para o parado. Porque trata-se, a princípio, de uma busca das personagens, da aceitação da morte e do mistério do rapaz do rio, que corre com as águas. E isso não incomoda o leitor, faz-nos pensar também.

O livro acaba por ser, também, um pouco como o rio: vamos nadando e sendo arrastados pela corrente.
Até um pouco mais de metade do livro, a história estava interessante mas não empolgante, simplesmente normal.
Depois, do nada, surgiu-me uma vontade imensa de acabar o livro e descobrir todos os segredos. Foi mesmo assim, do nada! De repente, esse rio de letras ganhou força e tudo passou a ser empolgante, o mistério passou a ser fascinante! Acabou por ser um livro muito bonito. O final, embora não fosse imprevisível, foi muito belo e conseguiu surpreender. O balanço é bom.

Este é daqueles livros em que cada objecto, cada paisagem, cada acção significa algo: o rio, o rapaz, a nascente e a foz, a cascata, a casa, a rapariga, o avô, a morte... Enfim, uma série de coisas. Daqueles livros que a princípio podem parecer parados mas à medida que vamos descobrindo a simbologia de cada coisa, passa a ser emocionante e, por fim, belo.

No fundo, aconselho. Só não achei tão bom como esperava porque só mesmo depois de passar metade das páginas é que senti a beleza das palavras. Sem querer tirar valor ao livro. Como disse, aconselho, aproveitem se o virem por acaso numa feira ou coisa do género...

11 comentários:

Flicka disse...

Olá, Pedro!
Até agora não tinha ouvido falar deste livro. Fiquei com curiosidade pois gosto da beleza das palavras mesmo que a história seja um pouco parada ou algo previsível. Mas, se tem por tema a morte, não ando para já com disposição para ler livros melancólicos.
Gostei da tua critica honesta, muito pessoal.
Até breve,
Flicka

betabandeira disse...

Assumo a minha ignorância quanto a esta obra. Não conhecia.

Eu gosto de obras "paradas". Quando nos "sintonizamos" com o que lemos o termo "parado" deixa de existir.

Beijinho
Beta

Maria Ngan disse...

Fiquei encantada com a descrição e opinião que fizeste deste livro !
Água, natação, densidade psicológica de personagens, riqueza de descrições, o belo por detrás das palavras e dos sentimentos ... hummm, parece-me ser um livro do qual vou gostar bastante !
Vou já anotar o nome ! ;)

Cristina disse...

Parece não ser o meu tipo de livro, mas a tua crítica deixou-me com a pulga atrás da orelha. Há livros assim, que vamos descobrindo pouco a pouco e, no final, ficamos surpresos por ver quanto gostamos deles.

Boas leituras!

João disse...

Eu conhecia o livro (por alto), li a sinopse e "um ou dois" comentários; e gostei imenso do que li na altura, já estava à espera dum livro "parado" e no fundo parece-me giro! Talvez o venha a comprar...!

Livros em 2ª Mão disse...

Gostei da tua descrição e acho que esta frase da Beta resume tudo:

"Quando nos "sintonizamos" com o que lemos o termo "parado" deixa de existir." :)

Gotinha* disse...

Já tinha ouvido falar deste livro. Faz parte da colecção Estrela do Mar da Editorial Presença, uma colecção por mim muito conhecida. Foi com ela que aprendi a amar os livros.
Por acaso, este livro nunca me despertou a atenção, mzs agora quando for à Feira do Livro, já tenho mais um a comprar.
Parece-me exactamente o género de Livros que gosto, como a obra O Segredo do Senhor ninguém, deve ser melancólicamente bela. Adoro.

Pedro disse...

Flicka,
é um bocado melancólico, pelo menos a princípio. depressa deixa de o ser. É um livro que tem muito mais a ver com sentimento, portanto é de esperar que tenha uma certa beleza.

Beta,
tal como dizes, quando essa obra nos envolve não se torna parada, mas esta foi demasiado normal para mim. Estava à espera que me emocionasse logo à primeira vista.

Butterfly,
atenção, a descrição não é tão rica quanto possas pensar! Aliás, foi por ser bastante normal que não achei o livro excepcional. De resto, posso concordar contigo. Entretanto, anota o nome e lê-lo, pois não perdes nada em experimentar. Até é um livro bonito no contexto, por isso mesmo aconselho.

Cristina,
sim, no final sentimo-nos bem, mas a verdade é que estava à espera de ser um livro do princípio ao fim rico e belo, o que, confesso, não achei. Como digo, é daqueles livros que compramos por acaso e até não nos arrependemos.

João,
giro é, mas só posso dizer que é um livro normal, para ler descansadamente. pode não ser o teu estilo, mas aconselho-te na mesma.

Livros em 2.ª mão,
Obrigado pela apreciação.

Gota de água,
Também já conheço a colecção há muito e sonhei muito com os livros que li...
Ainda não li o livro que referes, mas já esteve na minha lista (até um certo ponto, quando avancei para uma leitura diferente). Melancólico, sim, belo, depois do balanço sim.

Um grande abraço

Pedro disse...

Podiam-me disser quais são as personagens principais e secundárias?

Livros em 2ª Mão disse...

Pedro,
Cheira-me que andas a evitar ler o livro, mas apresentar trabalho feito! Ai ai ai!!
Pelos vistos o livro não é assim tão extenso e até é interessante.. Podias tentar lê-lo!

Pedro disse...

Pedro,
de facto, o livro não é extenso... Lê-se numa assentada, e há-de chegar a altura em que se torna belo.
Porque não tentas ler? Bem, de qualquer maneira, estás sempre à vontade em visitar este blog e perguntar o que quiseres... Não vou deixar de te responder porque, neste blog, falamos de livros, e a tua pergunta é directa e relacionada (e ajudará os interessados a conhecer o livro, e talvez os atrairá).
A personagem principal é a Jess, a neta. As personagens secundárias são: o Avô, a Mãe e o Pai de Jess, o Alfred (amigo do avô) e o rapaz do rio. Digo-te já, só lendo o livro perceberás quem são todas as personagens! Não te acanhes, olha que ficarás surpreendido. E o teu trabalho, ou o que quer que isso seja, será melhor e recompensado!

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