"Se houver, como dizem que há, um Céu dos Cães, é lá que quero ter assento, a ver a luz minguar no horizonte, com a sua palidez de crepúsculo num retrato de infância. Hei-de então bater à porta e pedir para entrar, e sei que eles virão, contentes e leves, receber-me como se o tempo tivesse ficado quieto nos relógios e houvesse apenas lugar para a ternura, carícia lenta a afagar o pêlo molhado pela chuva. Então poderemos voltar a falar de felicidade e de mim não me importarei que digam: teve vida de cão, por amor aos cães."
Bem, tudo começou quando a professora disse: "Têm de ler pelo menos um livro que conste no Plano Nacional de Leitura". Sou sincero, acho que este plano está mal organizado e afasta-se muito do objectivo. Quer dizer, podiam pelo menos dar o benefício da escolha e deixar-nos escolher um livro ao nosso gosto. Além disso, este Plano é muito para "inglês ver".
De qualquer maneira, eu não saio nada afectado com isso. Sou um grande leitor, e quantos mais livros melhor. É verdade que muitos livros que constam dessa lista não conheço e é uma boa oportunidade para partir à descoberta...
Por isso, depois de ouvir boas críticas acerca de "Amados Cães", decidi-me: este ia ser um dos livros escolhidos.
Trata-se do conjunto de várias histórias, textos de no máximo quatro páginas, vários testemunhos de cães cujos donos são, hoje, pessoas famosas e de renome. Alexandre O'Neill, Lord Carnarvon, Ulisses, Newton, Walter Scott, Byron, Sigmund Freud, Hemingway, Pavlov, Maria Callas, Hitler, Picasso, Elvis, Richard Nixon, Marylin Monroe, Sinatra, Steinbeck, Tim Burton, entre outros. Também há testemunhos de Laika, a cadela que foi ao espaço; a história de um cão que morreu durante a erupção de Vesúvio, no tempo dos romanos; enfim, uma série de pequenos textos que mostram o quanto o Cão é fiel e o quanto o Homem está ligado a ele.
É muito fácil de ler. Um pouco repetitivo, mas gostei do modo como o autor tornava os cães parecidos com o respectivo dono: como se, por exemplo, o estilo de escrita de Hemingway estivesse exposto no texto que se refere ao seu cão, como se o que foi escrito fosse da autoria do próprio cão, tão ligado ao dono.
Os textos estão em formato de carta ou prosa normal. Conclui-se que o cão é sempre fiel ao dono, na vida ou na morte, e que o cão compreende sempre o dono e faz-se entender. Quando o cão morre, o dono sente que perdeu um pedaço de alma, pois o cão faz parte de si, é aquele bocado de vida que aconchega e faz ver que, afinal, nós ainda temos vida em nós. O Cão é a bengala do Homem. Se é o dono que falece, o objectivo do cão passa a ser conseguir atingir o patamar do dono e voltar para ele.
Os cães são sempre o pano de fundo. A ideia é sempre a mesma, o amor aos cães, a sua fidelidade, os seus afectos, solidariedade e amizade. Aconselho por curiosidade e por ser uma leitura que atrai. Poderia ser um pouco mais original, então com tantas historietas, mas acho que o objectivo do escritor era apenas fazer um louvor aos cães e chamar apenas a atenção para o quanto eles marcam a vida e o destino.
Até uma próxima leitura!!!
4 comentários:
Por falar em cães, dizem que o livro que conta a história do Marley também é muito gira. São histórias leves e que, por vezes, têm o condão de descobrirmos um lado dos animais que desconhecemos. Eu, pessoalmente, nem sou nada apologista dos animais e talvez assim perdesse um pouco do medo que lhes tenho.
Já vi esse livro (algures) mas não me fascina. Um livro dedicado a cães não é bem o meu estilo... Li este porque me pareceu ternurento, original, e houve muito boas críticas.
Não li o Marley ainda apesar de quase toda a gente que conheço o tenha lido...
Este realmente parece-me original.
Vou coloca-lo na lista :)
Eu tenho esse livro, um dia hei-de pegá-lo. José Jorge Letria é um dos meus autores portugueses favoritos. Aprecio a sua escrita. Tenho um livro deste autor que é um conjunto de frases esplêndidas sendo acompanhadas de desenhos feitos pelo seu filho, e está autografado! :)
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