terça-feira, 13 de dezembro de 2011

No Reino de Glome, de C. S. Lewis

«Agora já estou velha e não temo a fúria dos deuses… irei escrever neste livro tudo aquilo que uma pessoa que é feliz não se atreveria a escrever. Vou acusar os deuses, especialmente o deus da Montanha Cinzenta. Vou contar tudo o que ele me fez, como se estivesse a apresentar a minha acusação perante um juíz. Eu sou Orual, a filha mais velha de Trom, rei de Glome.»

O reino de Glome, situado nas montanhas, na fronteira com a antiga Grécia, é uma terra bárbara onde se segue o culto obscuro à cruel deusa do amor, Ungit, e do seu filho, o deus da montanha, a que os gregos chamam Afrodite e Cupido. Quando Trom, o rei, casa novamente e dessa relação nasce Psique, a sua irmã mais velha, a princesa Orual, está longe de imaginar que esse nascimento irá modificar a sua vida e o curso da história.
Psique é de uma beleza inigualável, tão bela, inteligente e bondosa que o povo se esquece do culto a Ungit. A deusa enraivecida, exige que a princesa seja oferecida em sacrifício ao deus da montanha, mas ninguém poderia antecipar o que se iria seguir... Em breve os segredos escondidos na montanha vão ser revelados e Glome não voltará a ser o mesmo.

Do criador de "As Crónicas de Nárnia", este livro reconta a história de Psique e Cupido, um romance grego bastante famoso. C. S. Lewis considerou este livro como um dos seus melhores, ainda que tenha sido dos menos bem sucedidos no mundo editorial. Já tive a oportunidade de ler "As Crónicas de Nárnia" e depois de ter pegado neste, com alguma expectativa, creio que Lewis devia ter levado Nárnia um pouco mais a sério quando disse que "No reino de Glome" era o seu melhor...

Este livro tem como narradora Orual, irmã mais velha de Psique. Creio que ler a sinopse que deixei em cima é suficiente para perceber a história. Mas esta não é a história de Psique: é de Orual. Não acho que seja sequer a história de Deuses vs Homens (neste caso Orual) mas sim uma luta dentro da cabeça de Orual.
Não achei que este livro se comparasse, de todo, à fantasia criada com Nárnia, essa sim genial em toda a sua acepção.
Se o livro começa bem, com o passar das páginas vai-se tornando cada vez mais aborrecido. Orual é a irmã mais velha que adora Psique, Redival a irmã do meio, Trom um rei e pai tirano. Raposa é o escravo grego, tutor das três irmãs, que oferece uma visão do mundo mais realista, descrente em deuses como Ungit. Psique, devido à sua beleza, é oferecida ao deus da Montanha, filho de Ungit. Mas Orual, que não acredita nas divindades, está determinada em salvar a irmã... Sem esperar o que vai encontrar.

O livro seria espectacular se se resumisse a um conto. É o tipo de história que, num livro de 250 páginas, se vai arrastando até perdermos o entusiasmo inicial. Tive muita pena que praticamente todo o livro se debruçasse na luta pessoal de Orual e não houvesse mais momentos fantásticos, nomeadamente que de facto apelasse aos deuses. O livro arrasta-se indefinidamente nos pensamentos repetitivos de Orual sobre os deuses, sem eles alguma vez participarem de facto. Tudo acontece a passo de caracol, mais uma vez fazendo-me desejar que isto se resumisse a um conto.

Finalmente, cheguei ao fim confuso. Confesso que, se não fosse a nota do autor, que conta a história de Psique e Cupido "normalmente", não teria percebido. Não fiquei, pois, satisfeito. Ao contrário do que a Locus Magazine escreveu, sim, Tolkien teria escrito melhor, mesmo mantendo o ritmo lento e monótono da história de Lewis. Dispensável.

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